domingo, 11 de novembro de 2007

Início de operações da Botnia aumenta tensão entre Argentina e Uruguai na 'guerra das papeleiras'


O início das operações da fábrica de papel e celulose da companhia finlandesa Botnia (foto) em Fray Bentos, no Uruguai, no sábado, levou ao momento de maior tensão o conflito entre Argentina e Uruguai chamado de 'guerra das papeleiras', que já dura três anos.

A decisão do presidente uruguaio, Tabaré Vázques, de autorizar o funcionamento da fábrica sem consultar a Argentina e a Espanha, causou um enorme mal-estar.

Em Santiago, no Chile, no final da Conferência de Cúpula Ibero-Americana, o presidente argentino, Néstor Kirchner, agradeceu à mediação do rei Juan Carlos, da Espanha, num sinal de que as negociações com o Uruguai estão encerradas: “Sua Majestade, realmente quero lhe pedir desculpas porque fui um dos que lhe pediram que mediasse este problema que temos com a república irmã do Uruguai. Você faz um esforço tremendo, mas houve incompreensão de alguns".

O presidente uruguaio respondeu reclamando do bloqueio das pontes sobre o Rio Uruguai que ligam os dois países, bloqueadas diversas vezes por manifestantes argentinos: "O bloqueio de pontes nos causa um dano enorme. Já temos na região a experiencia do que causam os bloqueios que sofre Cuba há 40 anos".

Antes de saber que o Uruguai fechara a passagem de Gualeguaychú para Fray Bentos e do espaço aéreo sobre a fábrica, o chefe da Casa Civil do governo argentino, Alberto Fernández, declarou que "as relações estão muito danificadas".

Kirchner ficou especialmente irritado porque Vázquez o abraçara na noite anterior, sem fazer qualquer referência ao início das operações da Botnia.

A delegação uruguaia alegou que Vázquez tomou a decisão ao saber que Kirchner recebera um grupo de representantes da Assembléia dos Moradores de Gualeguaychú que fora a Santiago protestar dizendo-lhes: "Sempre estarei com a causa".

Surpreso, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, declarou: "Vamos ver qual é a explicação do Uruguai".

Pouco depois, Tabaré Vázquez disse ao rei Juan Carlos: "Considerei encerrado o compasso de espera quando o governo argentino deu apoio aos que bloqueiam estradas".

Para o Uruguai, o conflito virou uma questão de soberania nacional; para a Argentina, a fábrica representa uma ameaça ao meio ambiente, violando o Estatuto do Rio Uruguai, de 1975, um tratado bilateral sobre o uso compartilhado do rio que marca a fronteira entre os dois países.

A Argentina recorreu à Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas, em Haia, na Holanda, denunciando a violação do tratado. O tribunal deve tomar sua decisão dentro de um ano.

"Somos racionais, pacíficos e estamos abertos ao diálogo", comentou um alto funcionário argentino. "Buscamos uma solução do século 21, não do século 16".

Com a fábrica funcionando, o governo argentino vai monitorar as condições ambientais na busca de provas da poluição que reforcem sua causa na Corte de Haia.

Outra empresa, a espanhola Ence, abandonou seu projeto original e estuda a relocalização de sua fábrica.

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