Sob a liderança de Yasuo Fukuda, o Japão está adotando uma política externa mais moderada, pragmática e conciliadora, sobretudo em relação à China, e mais orientada para a Ásia do que seus antecessores Junichiro Koizumi e Shinzo Abe, observa nesta semana a revista inglesa The Economist.
Em setembro, Abe anunciou uma viagem pelo "arco da liberdade e da prosperidade" na Ásia. Foi à Índia, que como o Japão travou guerras recentes com a China, e à Austrália. Na reunião do fórum Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, prometeu ao presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, e ao então primeiro-ministro australiano, John Howard, total comprometimento na "guerra contra o terrorismo".
Mas Abe caiu no final de setembro. Howard foi derrotado pelos trabalhistas no último domingo. E, na semana passada, os navios de guerra japoneses que reabasteciam a Marinha dos EUA no Oriente Médio voltaram para casa, diante da resistência do oposicionista Partido Democrático do Japão (PDJ), que usou sua maioria no Senado para bloquear a operação.
Fukuda fez sua primeira viagem ao exterior a Washington, reafirmando os laços de amizade e o tratado militar EUA-Japão, de 1951. Mas sinalizou uma mudança clara na política externa japonesa, mais voltada para a Ásia e mais conciliatória em relação à China e à Coréia do Norte.
Na atual confusão política no Japão, onde o PDJ rejeitou um convite para formar uma grande aliança, é improvável que a missão de reabastecimento, mais simbólica do que outra coisa, seja reautorizada.
Yasuo Fukuda é fiel às idéias de seu pai, Takeo Fukuda, primeiro-ministro há 30 anos. Na época, ele prometeu aos países vizinhos que o Japão jamais iniciaria uma nova guerra. Ao contrário, trabalharia para criar confiança e respeito mútuo. É a chamada Doutrina Fukuda.
O conservadorismo linha-dura e o revisionismo do passado militarista e agressivo do Japão Imperial de Koizumi e Abe provocaram atrito com os vizinhos, especialmente a China e as Coréias.
As relações com a China se deterioraram, caindo ao nível mais baixo desde o reatamento entre as duas potências do Leste da Ásia depois da Segunda Guerra Mundial. Em abril de 2004, houve uma série de manifestações na China, obviamente organizadas pelo governo comunista, contra a recusa do Japão de reconhecer os erros do seu passado imperial.
Enquanto seus antecessores entendiam que o fortalecimento do Japão vem de sua aliança com os EUA, Fukuda aposta numa política externa mais independente e mais voltada para a região. Acredita que o Japão deve criar mecanismos regionais para resolver as inúmeras disputas territoriais e aumentar a transparência em questões militares.
A maior preocupação japonesa é com o extraordinário crescimento chinês. Talvez seja mais recomendável adotar uma política de engajamento construtivo, refletindo os crescentes laços econômicos entre os dois países, do que tentar alguma forma de contenção que seria incapaz de frear o desenvolvimento da China.
Afinal, com o declínio relativo dos EUA, há uma tendência de que os americanos reduzam sua presença militar na Ásia, que de um modo ou de outro criou o ambiente de estabilidade para o espetacular desenvolvimento econômico na região.
Com menos EUA, o delicado equilíbrio no Leste da Ásia, a região onde a Guerra Fria foi quente, com dezenas de milhões de mortes, vai depender mais da China e do Japão - e especialmente das boas relações entre as duas potências regionais com ambições mundiais.
A visita de cinco dias, entre 29 de agosto e 2 de setembro, do ministro da Defesa da China, Cao Gangchun, ao Japão, depois de mais de nove anos de esfriamento das relações militares é um sinal de reaproximação, observa Alexandre Uehara, do Grupo de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (USP). Mas, acrescenta, as profundas desconfianças históricas não foram superadas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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