A África é o continente mais assolado por doenças preveníveis e tratáveis como malária, aids e tuberculose, mas tem apenas 3% dos profissionais de saúde. Milhões de africanos sofrem e morrem necessariamente todos os anos.
Um estudo da empresa de consultoria McKinsey estima que só a África Subsaariana, que exclui os países árabes no Norte do continente, precisa de mais 820 mil médicos, enfermeiras, parteiras, atendentes hospitalares e agentes de saúde para atingir a média por habitante indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS): 2,5 para cada mil habitantes.
Na África, a média é de 1,3/mil, em contraste com 7 na América e 11 na Europa.
Para atingir a meta da OMS, os governos da região teriam de aumentar seus quadros de pessoal de saúde em 140%.
Infelizmente, conclui o relatório, não há dinheiro para contratar, treinar e sustentar esse exército de trabalhadores de saúde. A maioria dos recursos destinados à saúde em 2015, estimados em US$ 22 bilhões, irá apenas manter os precários serviços atuais, com um gasto de cerca de US$ 20 por pessoa.
Se forem computados as correções salariais e o aumento de despesas com novos métodos de tratamento de doenças como aids e tuberculose, sobrariam apenas US$ 400 milhões para formar e contratar novos trabalhadores da saúde.
Mesmo com dinheiro, é impossível encontrar pessoal qualificado. Haveria necessidade de mais 600 faculdades de medicina e de enfermagem e de décadas para formar os profissionais.
Outro problema é que a falta de infra-estrutura, hospitais e equipamentos médicos, e os salários baixos acabam provocando a emigração dos melhores profissionais para países mais desenvolvidos.
Depois de entrevistar 40 especialistas em oito países africanos, o estudo faz algumas recomendações:
1. Os governos da África devem examinar modelos de serviços de saúde de outros países em desenvolvimento, onde paramédicos e agentes de saúde comunitários complementam o trabalho dos profissionais mais qualificados, a exemplo dos médicos de pés descalços chineses. Seria uma estratégia com relação custo-benefício muito superior às abordagens tradicionais.
2. A ajuda internacional e as organizações não-governamentais (ONGs) devem apoiar esforços para aumentar a produtividade dos trabalhadores de saúde na África.
3. É preciso mudar a lei de alguns países onde todo o trabalho dos profissionais de saúde está subordinado ao Estado, criando um ambiente que estimula a participação do setor privado, ONGs e entidades comunitárias, de modo a aliviar a carga do setor público.
Leia a íntegra do relatório McKinsey sobre a saúde na África.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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