A desaceleração da economia dos Estados Unidos pode provocar uma queda nas exportações capaz de se tornar num ponto de inflexão do extraordinário crescimento econômico chinês, advertiu quinta-feira o Ministério do Comércio da China.
Um crescimento menor da economia mundial por causa da crise de crédito iniciada no setor habitacional americano "será o maior desafio para a economia da China no próximo ano", diz um relatório do departamento de pesquisa política do ministério.
É o primeiro comentário oficial do governo chinês sobre o impacto da crise global de crédito. Indica que os formuladores de política na China não acreditam que o crescimento da Ásia possa se descolar dos EUA: "Se a demanda nos EUA cair, as exportações chinesas serão arrasadas por uma queda rápida e contínua nas encomendas."
O documento é também a prova mais evidente de que a China vê sua economia como interdependente dos EUA.
As exportações são responsáveis por mais de um terço do crescimento econômico chinês e de 10% do PIB.
Huang Yiping, analista econômico do Citigroup citado pelo Financial Times , concorda com o governo: "Uma desaceleração forte da economia americana seria muito ruim para a China. Não vemos excesso de capacidade instalada na economia, que poderia levar a uma aterrissagem forçada, porque a China tem conseguido exportar esse excesso até agora".
O relatório do governo chinês é pessimista. Não acredita muito na possibilidade de evitar uma desaceleração americana e global. Observa que, mesmo que os bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão tenham oferecido formidáveis somas de dinheiro para aliviar a crise de crédito, a situação continua a piorar e "o pânico nos mercados de crédito" também.
Como os EUA compram um quinto de todas as exportações chinesas, o Banco da China estima que cada ponto percentual de queda no crescimento dos EUA provoque uma queda de 6% nas exportações chinesas.
Desde o início, o aumento das exportações para os EUA está caindo, de 20,4% no primeiro trimestre para 15,6% no segundo e 12,4% no terceiro, quando começou a crise de crédito.
Além disso, uma combinação de queda dos juros nos EUA e alta na China limita a capacidade do governo chinês de conter a alta no preço dos ativos, como imóveis e ações. A inflação está no nível mais alto em uma década.
Para os analistas chineses, a crise no mercado financeiro internacional pode estimular novas inversões de capital na China, pressionando a inflação para cima e levando ao esgotamente o débil sistema financeiro chinês.
Outra conseqüência seria a redução do espetacular saldo comercial chinês, que bateu o recorde mensal em outubro com US$ 27 bilhões. Desde o início do ano, o superávit do comércio exterior chinês cresceu quase 60%, chegando a US$212,4 bilhões nos primeiros dez meses do ano.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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