O barril de petróleo aproxima-se de US$ 100. Já passa de US$ 98. As dívidas podres da crise no mercado de crédito hipotecário nos Estados Unidos podem chegar a US$ 250 bilhões até o final de 2008. E a PetroChina vale US$ 1 trilhão, mais de duas vezes mais do que a Exxon, até a semana passada a maior companhia aberta do mundo, o que sugere que o mercado financeiro chinês está criando uma bolha.
Bem-vindos ao admirável mundo novo globalizado. Mas apertem os cintos. A previsão é de fortes turbulências à frente, apesar do otimismo exagerado de quem não vê riscos de crise energética nem de desindustrialização da economia brasileira.
A crise no mercado de crédito hipotecário para tomadores de segunda linha nos Estados Unidos só vai pior nos próximos dois anos, afirma Bill Gross, o diretor de investimentos do maior fundo de bônus do mundo.
Em entrevista à televisão americana CNBC, especializada em economia e negócios, Gross, da Pacific Investment Management (Pimco) previu que o mercado ainda terá absorver prejuízos de US$ 250 bilhões até o final deste ano e em 2008. Ele entende que os grandes bancos que anunciaram prejuízos de bilhões de dólares no terceiro semestre – Citigroup, Merrill Lynch e Bear Stearns – sofrerão perdas adicionais.
Sua recomendação: o Comitê do Mercado Aberto do Federal Reserve Board (Fed), o comitê de política monetária do banco central dos EUA, deve continuar a reduzir os juros, com o objetivo de fazer com que os juros do crédito hipotecário para 30 anos caiam para 5% ao ano, a fim de evitar novos calotes.
"O Fed está encurralado", analisou Gross. "Precisa combater a inflação, mas também tem de combater a deflação dos ativos imobiliários."
Se levarmos em conta que o Fed ajudou a criar a bolha especulativa no mercado imobiliário americano ao manter a taxa básica de juros em 1% ao ano depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a questão é o que esperar da China. Lá, as autoridades monetárias não têm a menor experiência em crises financeiras e os investidores parecem tomados por um otimismo incontornável.
Na segunda-feira, 5 de novembro, a companhia petrolífera estatal PetroChina tornou-se a maior empresa do mundo. Suas ações subiram 163% no primeiro dia de abertura de seu capital na Bolsa de Valores de Xangai, a maior cidade chinesa.
Durante o pregão, a PetroChina, que já negociava ações em Hong Kong e Nova Iorque, foi cotada em US$ 1 trilhão. É mais do dobro da empresa de petróleo americana Exxon Mobil, que tem um valor de mercado de US$ 450 bilhões e era a maior companhia de capital aberto do mundo. Mas a Exxon tem lucros maiores e as empresas chinesas não controlam nem 2% dos campos petrolíferos do mundo.
O governo chinês, preocupado com a formação de uma bolha especulativa, prometeu controlar os mercados financeiros. Como a China tem uma taxa de poupança elevadíssima, de 47%, e os chineses não podem investir no exterior, restam poucas opções. No momento, eles estão descobrindo as bolsas de valores. Talvez ainda não tenham se dado conta de que o mercado de renda variável oscila também para baixo.
Quando o primeiro-ministro Wen Jiabao fez restrições a um plano que permitiria que residentes na China continental comprassem ações em Hong Kong, a Bolsa de Hong Kong caiu 5%. Vem aí novas altas e baixas.
Em meio à crise provocada pelo estouro da bolha especulativa no setor habitacional nos EUA e o risco de que a China esteja inflando a sua, os preços do petróleo estão a menos de dois dólares da marca psicologicamente importante de US$ 100.
Há alguns meses, previa-se que esta marca seria atingida em caso de um bombardeio dos EUA contra o programa nuclear do Irã. Agora, se esse ataque vier – e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, acaba de reiterar, diante do Congresso dos EUA, que um Irã com armas nucleares é “inaceitável” para a França – o petróleo vai a quanto: US$ 150?
É preciso lembrar ainda que a China é a principal responsável pelo aumento nos preços dos produtores primários. Essa alta é responsável pela bonança econômica da América do Sul e do Brasil, que percentualmente exporta cada vez menos manufaturados.
Nas estatísticas oficiais, o Brasil coloca, por exemplo, açúcar como produto industrializado. Ninguém exporta cana-de-açúcar.
As exportações brasileiras concentram-se em soja, aço, açúcar, em breve talvez também o álcool, ferramentas simples, como pás e chaves de fenda, mas pouquíssimos produtos com alto conteúdo tecnológico.
Há uma notável exceção: os aviões da Embraer. Assim, uma crise no processo de desenvolvimento chinês, que inevitavelmente virá um dia – pensem no Japão dos anos 80 para os 90 – terá um forte impacto nestes tristes trópicos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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