quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Atentado terrorista mata 12 em jornal francês que satirizou Islã

Dois homens armados com fuzis de guerra, vestidos de preto e encapuçados invadiram às 11h30 de hoje em Paris (8h30 em Brasília) a sede do jornal semanal de humor Charlie Hebdo, que satirizou várias vezes o extremismo muçulmano e já havia sido alvo de um incêndio criminoso, e mataram 12 pessoas. Oito eram jornalistas. Outras 11 pessoas saíram feridas. Quatro estão em estado grave.

Foi o atentado terrorista mais violento em território francês desde 1961, quando a Organização Armada Secreta (OAS), um grupo paramilitar de direita da própria França, explodiu uma bomba no trem Estrasburgo-Paris, matando 28 pessoas, em protesto contra uma declaração do então presidente, general Charles de Gaulle, reconhecendo o direito da Argélia à independência. E o pior ataque terrorista na Europa desde a morte de 52 pessoas no sistema de transportes de Londres em 7 de julho de 2005.

Entre os mortos hoje, havia oito jornalistas, sendo quatro cartunistas, inclusive o editor-chefe Stéphane Charbonnier, que assinava os desenhos como Charb, Cabu, Tignous, Wolinski, Honoré, Mustafa Ourad, Elisa Cayat e o economista Bernard Maris, que trabalhava como comentarista no jornal e na Rádio France International, e dois policiais, Franck Brinsolaro, encarregado da segurança de Charb, e Ahmed Merabet, um policial morto na rua ao tentar impedir a fuga dos terroristas.

Todos os jornalistas participavam de uma reunião do conselho editorial realizada todas as quartas-feiras a partir de 10h. Os extremistas conheciam os detalhes da rotina do semanário. Os outros mortos eram Michel Renaud, convidado para a reunião, e Frédéric Boisseau, baleado na entrada do prédio.

Mais de 3 mil policiais estão à procura dos terroristas. Durante a fuga, eles abandonaram o carro usado no ataque e roubaram outro na porta de Pantin, no Norte de Paris. A suspeita é que sejam militantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante que tenham lutado em guerras no Oriente Médio, mas podem ser de outros grupos jihadistas. Eles não tinham sotaque, uma indicação de que devem ser cidadãos franceses.

Uma cartunista sobrevivente chegava atrasada para a reunião com sua filha quando os terroristas chegaram na porta do prédio agressivamente e ameaçaram matar a criança para forçar a entrada. Eles subiram para o segundo andar, onde ficava a redação, e metralharam a reunião editorial declarando pertencer à rede terrorista Al Caeda.

A ação durou cerca de cinco minutos. Um vídeo registrou seus gritos de "Alá é Grande!", "Nós vingamos o profeta" e "Matamos Charlie Hebdo".

Quando lançou uma edição satírica sob o nome Charia Hebdo, uma referência à charia, a lei islâmica, o jornal declarou ter sido editado pelo profeta Maomé. Mas a indignação dos muçulmanos é anterior.

Em 2006, Charlie Hebdo publicou caricaturas do profeta, inclusive com um turbante-bomba. A reprodução da figura humana é expressamente proibida pelo islamismo, que veta a reprodução da figura humana para evitar a idolatria.

O presidente François Hollande descreveu o ataque como uma "barbárie excepcional" e considerou o ataque um atentado à liberdade de expressão da França. Falando em francês, o secretário de Estado americano, John Kerry, também condenou o ato terrorista, assim como a Liga Árabe e a Arábia Saudita.

Em Washington, o presidente Barack Obama repudiou o ataque "diabólico e covarde" como uma agressão à liberdade de expressão, ao jornalismo e à democracia, "aos valores que temos em comum com a França" e a "tudo que aquela linda cidade representa".

Em Londres, no fim de um encontro bilateral, os primeiros-ministros do Reino Unido, David Cameron, e da Alemanha, Angela Merkel, declararam que foi um ataque contra a liberdade de expressão e a democracia.

No fim de semana, Merkel criticou o grupo autointitulado Patriotas Europeus contra a Islamização do Continente (Pegida), que reuniu 18 mil pessoas numa passeta anti-imigração em Dresden. A crise econômica e o extremismo muçulmano alimentam o renascimento da extrema direita na Europa.

Milhares de pessoas, em número muito maior, marcharam contra o racismo e o nazismo em Berlim, Colônia e outras cidades alemãs. Mas o terrorismo em nome de Alá inevitavelmente reforça a ultra direita.

Para apimentar o debate, o escritor francês mais vendido internacionalmente hoje, Michel Houellebeq, está lançando um novo romance, Submissão. Em 2022, depois de dois governos de François Hollande, um presidente muçulmano "moderado" é eleito presidente da França com o apoio dos partidos tradicionais para evitar a vitória da neofascista Frente Nacional e Marine Le Pen.

A economia se recupera e o desemprego cai porque as mulheres são estimuladas a parar de trabalhar. A Sorbonne virou uma universidade islâmica com um reitor casado com três mulheres. Os decotes e as minissaia foram proibidas.

No jornal Libération, o diretor Laurent Joffrin, acusou Houellebeq de trazer "as teses de ultradireita de volta à alta literatura". Em entrevista ao telejornal 20 Heures, de TV France 2, o escritor se defendeu alegando que a literatura não precisa ter compromissos políticos nem com a realidade. Seria apenas ficção.

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