quinta-feira, 28 de agosto de 2014

EIIL quer destruir ordem ocidental no Oriente Médio

Ao tomar um terço dos territórios da Síria e do Iraque, uma área do tamanho da Jordânia, a milícia fundamentalista muçulmana Estado Islâmico do Iraque e do Levante visa a destruir a ordem imposta ao Oriente Médio pelos impérios Britânico e Francês no fim da Primeira Guerra Mundial (1914-18).

A Arábia Saudita, a Jordânia, a Síria e o Líbano foram criados com base no Acordo Sykes-Picot, no qual as duas potências europeias redesenharam o mapa do moderno Oriente Médio sobre as ruínas do Império Otomano, uma ordem que os Estados Unidos tentam preservar depois do colapso dos impérios da Europa.

O acordo secreto foi articulado em 1916 pelo diplomata francês François Georges-Picot e seu colega britânico Mark Sykes. Criou um Iraque dominado pelo Império Britânico e dividiu a província otomana da Síria por uma linha que vai do Mar Mediterrâneo até o Monte Hermon. O Norte ficou com os franceses e o Sul com os britânicos.

A França, com uma presença no Levante desde a era napoleônica, tinha aliados cristãos. Pegou uma parte da Síria e transformou no Líbano.

A oeste do Rio Jordão, ficava o distrito otomano de Filistina, rebatizado pelo Império Britânico como Palestina, em estado de guerra desde a fundação de Israel, em 1948, e da não criação até hoje do prometido país árabe.

Duas tribos rivais unidas por Lawrence da Arábia para lutar ao lado do Império Britânico contra os turcos otomanos durante a Primeira Guerra Mundial foram contempladas. Os sauditas dominam a maior parte da Península Arábia. Criaram a Arábia Saudita, maior potência do mundo árabe, guardiã das cidades sagradas de Meca e Medina, detentora das maiores reservas de petróleo, o que só foi descoberto depois.

A outra tribo, os hachemitas, ganhou a monarquia no Iraque e uma faixa estreita de terra a leste do Rio Jordão, a Transjordânia, que com o tempo passou a se chamar só Jordânia. A promessa de criar uma pátria para os curdos, o Curdistão, foi adiada. Talvez se realize agora.

O Oriente Médio foi redesenhado num modelo europeu de Estados nacionais baseados em direitos individuais. Nas sociedades árabes, a base é a família. Cada família pertence a um clã e este clã a uma tribo. É assim que se formam as redes de relacionamento social. A lealdade é ao clã e à tribo, não à nação.

Com a criação de Israel em votação da ONU em 1947, nasceu um novo país, rejeitado por seus vizinhos árabes, que entraram em guerra. A derrota derrubou a monarquia no Egito. Egito, Síria e Iraque se aliaram à União Soviética na Guerra Fria, enquanto Israel, Jordânia, Arábia Saudita e as outras monarquias petroleiras do Golfo Pérsico se alinharam aos EUA.

Quando o presidente do Egito, Anuar Sadat, abandonou a URSS, aliou-se aos EUA e foi a Israel, em 1977, para fazer a paz e recuperar a Península do Sinai, a URSS deixou de ser uma potência no Oriente Médio.

Desde a invasão do Iraque em 2003, a hegemonia americana tem sido confrontada por grupos jihadistas que nos últimos anos se beneficiaram do fracasso da Primavera Árabe para insistir na tese de que só uma guerra santa total, sem escrúpulos nem limites, é capaz de restaurar o controle dos árabes sobre seu próprio destino.

Em declarações oficiais, o EIIL destaca a necessidade de acabar com o Oriente Médio redesenhado pelo Acordo Sykes-Picot há um século. É cedo para avaliar seu impacto, mas as propostas de divisão do Iraque ao longo de linhas étnicas e religiosas podem abrir uma nova caixa de surpresas e prolongar essa era de guerras sem fim.

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