Com a cobertura da Força Aérea dos Estados Unidos, milícia xiitas e curdas enfrentaram e derrotaram neste fim de semana a milícia extremista muçulmana sunita Estado Islâmico no Norte do Iraque. O objetivo era romper o cerco de dois meses e meio a Amerli, um grupo de aldeias turcomanas xiitas ameaçadas de extermínio pela ofensiva jihadista.
Embora o governo Barack Obama tenha dito que não há nenhuma coordenação, os EUA estão atuando como força aérea de milícias xiitas iraquianas apoiadas pelo Irã na luta para conter o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que domina hoje cerca de um terço dos territórios da Síria e do Iraque.
A nova presença militar americana é um indicador de como o Iraque se deteriorou desde a retirada total das forças dos EUA, no fim de 2011. O Iraque era um Estado policial sob Saddam Hussein. Com a invasão ordenada por George W. Bush em 2003, os EUA destruíram o Estado policial, mas não investiram o suficiente para criar outro.
Hoje o Iraque é um Estado falido onde o governo dominado pela maioria árabe xiita alienou a minoria sunita, enquanto os curdos têm autonomia.
A independência do Curdistão pode ser o marco inicial da desintegração do Iraque, criado pelo subsecretário de Estado do Império Britânico para o Oriente Médio Winston Churchill. Churchill propôs a união da província curda de Kirkuk, rica em petróleo, às províncias de Bagdá e Bássora para formar um país capaz de rivalizar com a Pérsia. Mas deu apenas 87 quilômetros de saída para o mar.
A maioria dos combatentes do Estado Islâmico no Iraque foi recrutada na comunidade sunita. Muitos trabalhavam nas forças de segurança de Saddam Hussein, foram afastados na desbaathização, o expurgo dos membros do partido Baath, de Saddam, e ficaram desempregados. A invasão americana desestabilizou o Iraque.
Com a cruenta guerra civil na Síria, que matou mais de 193 mil pessoas em três anos e cinco meses, o Estado Islâmico se fortaleceu, conquistou uma base territorial e passou a gerar receita, invadindo em seguida as regiões sunitas do Iraque.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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