Depois de resistir desde o início do ano, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a deputada democrata Nancy Pelosi, anunciou hoje a abertura de inquérito para informar um possível processo de impeachment do presidente Donald Trump.
Até agora, Pelosi resistia às pressões da ala mais à esquerda do Partido Democrata, que reconquistou a maioria na Câmara nas eleições do ano passado. Primeiro, esperou o relatório do procurador especial Robert Mueller, que não descobriu conluio da campanha de Trump com a Rússia, mas apontou dez casos de possível obstrução de justiça pelo presidente.
Como o presidente dos EUA não pode ser processado pela Justiça durante o exercício do cargo, só pelo Congresso, num julgamento político, caberia à presidente da Câmara dar início ao impeachment. As pesquisas indicavam que a maioria do eleitorado era contra. Pelosi entendia que o processo poderia acabar ajudando na reeleição de Trump em 2020.
Mudou de ideia com a revelação de que Trump pressionou o novo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em telefonema em 25 de julho, a investigar os negócios de Hunter Biden, que foi diretor de uma companhia de gás ucraniana quando o pai era vice-presidente do governo Barack Obama (2009-17).
Trump segurou uma ajuda militar de US$ 391 milhões e uma ajuda econômica de US$ 250 milhões para forçar Zelensky a investigar Hunter Biden. Hoje, disse que o telefonema foi "perfeito", prometendo liberar a gravação ou a transcrição em breve.
Joe Biden é o líder das pesquisas entre os pré-candidatos do Partido Democrata e provável adversário de Trump em novembro do próximo ano. Ao usar a política externa dos EUA em benefício próprio, Trump rompeu um limite. Um agente secreto que teve acesso à gravação alertou o inspetor-geral de Inteligência, responsável pela fiscalização do setor.
No domingo, Trump admitiu ter falado no assunto com o presidente ucraniano. Como costuma fazer, a Casa Branca tentou negar ao Congresso o acesso ao conteúdo do telefonema. Com o inquérito para abrir um processo de impeachment, o presidente deve ser obrigado a ceder.
Política veterana, Pelosi deve ter calculado que o inquérito vai desgastar, em vez de fortalecer, o presidente Trump. Com foco na Ucrânia, Joe Biden também vai entrar na investigação. Até o momento, não há indícios de irregularidades cometidas por Biden ou seu filho.
Pela Constituição dos EUA, o julgamento político do presidente precisa ser aprovado pela maioria simples da Câmara dos Representantes, onde os democratas são maioria. Mas a condenação e o impedimento do presidente dependem de uma maioria de dois terços dos votos do Senado, onde o Partido Republicano tem maioria. São necessários 67 votos contra Trump, o que exigiria o apoio de toda a bancada democrata e mais 20 senadores republicanos.
Em 1974, no Escândalo de Watergate, o presidente Richard Nixon renunciou depois que a bancada republicana vai à Casa Branca anunciar a retirada do apoio. Trump ainda está muito longe disso.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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