A luta deve continuar até a vitória final. Nada de fraqueza diante da coação, adverte o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista da China, ao comentar a guerra comercial com os Estados Unidos, deflagrada pelo presidente Donald Trump, noticiou hoje o jornal The South China Morning Post, de Hong Kong.
A China tem paciência estratégica. Não deve ter pressa em fechar um acordo. Precisa resistir aos EUA. Ceder sob pressão seria um erro grave, argumenta o Diário do Povo.
"Se a China parecer fraca e fizer concessões sob pressão hegemônica, terá cometido um erro histórico subversivo", observa o comentário atribuído ao professor de relações internacionais Jin Carong, da Universidade do Povo, e ao pesquisador Sun Xihui, da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
"Ao enfrentar uma pressão extrema e comportamento ameaçador, ser fraco e dar um passo atrás não fazem sentido. Só podemos proteger os interesses centrais da nação e do povo sustentando uma luta racional e favorável no ritmo certo", acrescentam os autores.
Depois de um ano e dois meses, novos tarifaços entraram em vigor em 1º de setembro, por iniciativa dos EUA, com a esperada retaliação chinesa. Alimentos, roupas, eletrodomésticos e fones de ouvido sem fio estão entre os produtos chineses que passam a ser tarifados em 15% para entrar nos EUA, num valor total de US$ 110 bilhões em exportações anuais.
Uma segunda rodada do tarifaço de Trump entra em vigor em 15 de dezembro, depois de um adiamento sob o pretexto de não atrapalhar no Natal dos americanos. Na verdade, o presidente deve estar preocupado com a desaceleração da maior economia do mundo e o risco de recessão, capazes de impedir sua reeleição em 2020.
O governo chinês parece determinado a resistir à agressividade de Trump na expectativa de negociar com um presidente mais racional na Casa Branca, a partir de janeiro de 2021. Também ontem, aumentou para 5% e 10% as tarifas sobre US$ 75 bilhões em importações anuais dos EUA.
Quando as negociações pareciam caminhar para um acordo, no início de maio, Trump acusou a China de recuar em compromissos assumidos. Em encontro durante a reunião de cúpula do Grupo dos 20 (19 países mais ricos do mundo e a União Europeia) realizada em Osaka, no Japão, em 29 de junho, o presidente americano e o ditador chinês, Xi Jinping, acertaram o reinício das negociações. Mas não houve progresso significativo.
As exigências dos EUA incluem não só acesso a mercado, mas o fim de subsídios e da política industrial da China para desenvolver o setor de alta tecnologia, de importância estratégica e militar. É uma interferência na sua soberania que o regime comunista chinês não parece disposto a aceitar.
Na opinião do professor de relações internacionais Shi Yinhong, da Universidade do Povo em Beijim, o governo chinês deve impor três condições fundamentais nas negociações: a remoção das tarifas, um acordo justo e a importação de produtos americanos deve atender às necessidades internas da China.
"Se estes três princípios não forem aceitos, não há nada para conversar", afirmou o professor. "Desde a escalada de maio, a China só pode retaliar. De outra forma, será vista como fraca."
Shi alegou que os EUA querem manter as tarifas até a eleição presidencial do próximo ano como garantia de que a China vai cumprir os compromissos assumidos. Talvez Trump queira pousar como o líder forte capaz de enfrentar a superpotência em ascensão.
O professor da Universidade do Povo lembra que Beijim pode usar seu poder e sua influência em outras questões de interesse dos EUA, como os programas nucleares da Coreia do Norte e do Irã.
"A China se expressou com sinceridade, mas Trump tomou isso como sinal de que a China ansiosa para chegar a um acordo", analisou Shi. "Há dúvidas de que a economia dos EUA possa manter o ritmo atual até as eleições de 2020. Trump poderá ceder se houve sinais claros de recessão na economia dos EUA.""
Os dados da economia chinesa em julho e agosto não foram bons. Como é o crescimento econômico que legitima hoje o poder absoluto do Partido Comunista, o regime certamente está preocupado com a economia. À China, também não interessa uma escalada maior nas tensões. Um conflito prolongado vai drenar recursos da segunda maior economia do mundo, com ambição de chegar ao primeiro lugar até 2030.
Mesmo que haja um acordo, o que hoje parece distante, o confronto entre os EUA e a China é econômico, estratégico, científico, tecnológico e militar. Um acordo comercial será apenas uma trégua.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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