sábado, 28 de setembro de 2019

Jornais fecham sob pressão de Ortega na Nicarágua

Sob pressão do ditador Daniel Ortega, dois jornais e o website da companhia jornalística Nuevo Diario pararam de circular ontem. Em editorial, El Nuevo Diario disse estar acabando com as edições impressa e digital por "dificuldades econômicas, técnicas e logísticas que tornaram a operação insustentável".

Há mais de um ano, em meio a uma onda de manifestações de protesto contra o governo Ortega, a alfândega da Nicarágua começou a segurar a importação de papel de imprensa e outras matérias-primeiras para El Nuevo Diario e para o Grupo Editorial La Prensa, que publica os jornais La Prensa e Hoy.

"Sem qualquer justificativa legal ou administrativa", parte dos suprimentos foi liberada em julho, contou o diretor executivo da empresa ND Medios. Sem papel, El Nuevo Diario passou a circular apenas cinco dias por semanas e reduziu a edição de 38 para oito páginas. A empresa também fechou o jornal Metro, que era distribuído gratuitamente na capital, Manágua.

Os jornais La Prensa e Hoy também diminuíram o número de páginas estão sob "ameaça permanente", declarou o editor-chefe de La Prensa, Eduardo Enríquez à agência de notícias EFE.

Jornal mais tradicional do país, La Prensa tem 93 anos. Era o jornal de Pedro Joaquín Chamorro, o jornalista cujo assassinato apressou o fim da ditadura da Anastasio Somoza e a vitória da Revolução Sandinista, em 19 de julho de 1979.

Sua mulher, Violeta Chamorro, foi eleita presidente em 1990, vencendo Ortega, que estava no poder desde a vitória da revolução e voltou em 2007 pelo voto popular. Desde então, ficou cada vez mais prepotente e autoritário.

"Hoje é um dia de luto nacional. Um jornal fechou por falta de matéria-prima por causa da ditadura", declarou sua filha, a jornalista Cristiana Chamorro, diretora da Fundação Violeta Barrios de Chamorro.

O escritor e intelectual Sergio Ramírez Mercado, vice-presidente de Ortega de 1985 a 1990, considerou um "golpe na liberdade de imprensa que devemos repudiar e denunciar".

Nos últimos anos, a Nicarágua perdeu a ajuda econômica da Venezuela, que enfrenta um colapso econômico. Desde abril de 2018, quando manifestantes tomaram as ruas para protestar contra uma proposta de reforma da Previdência Social que reduzia benefícios e aumentava a contribuição, a Nicarágua vive em clima de rebelião.

Com a violenta repressão de Ortega, pelo menos 328 pessoas foram mortas, inclusive uma estudante brasileira, de acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ou 595 pelos cálculos de grupos nicaraguenses de defesa dos direitos humanos.

O que era uma onda de protestos contra a reforma da previdência virou um movimento que exige o fim da repressão, a saída de Ortega e o julgamento dos crimes cometidos pela regime. A Igreja Católica tentou negociar uma solução, mas o ditador se nega a entregar o poder.

Em 21 de setembro, centenas de policiais impediram uma marcha que manifestantes que gritavam: "Ditadura, não! Democracia, sim!"

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