Em depoimento de mais de sete horas à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o ex-advogado particular do presidente Donald Trump durante dez anos, Michael Cohen, atacou duramente o antigo patrão, acusando-o de uma série de crimes e mentiras capazes de servir de base para um processo de impeachment.
"Ele é racista, escroque e trapaceiro", afirmou o advogado, reconhecendo ter cometido crimes para defender o presidente. "Não estou mais protegendo o Sr. Trump."
Entre as mentiras do presidente, Cohen citou os pagamentos a ex-amantes para evitar notícias negativas durante a campanha eleitoral, negócios com a Rússia, o aumento de sua riqueza para impressionar bancos e a ocultação para enganar o imposto de renda.
Trump orientou diretamente seu advogado a pagar a atriz pornô Stormy Daniels para que o dinheiro não pudesse ser rastreado. Cohen fez cópia dos cheques. Foi reembolsado pelo presidente já no exercício do cargo.
O magnata teria inflado seu patrimônio para obter empréstimos do Deutsche Bank e deflacionado para não pagar impostos. "Cite um país governado por um negro que não seja um buraco de merda", mencionou o advogado como exemplo do racismo de Trump. "Ele me disse que os negros nunca votariam nele porque são muito estúpidos."
O presidente teria entrado na campanha para salvar seus negócios, acusou Cohen: "Ele não esperava vencer as eleições primárias. Nunca esperava vencer a eleição. A campanha, para ele, foi sempre uma jogada de marketing. Ele não queria tornar os EUA grandes de novo. Queria valorizar sua marca."
Cohen depôs sob o ataque de deputados do Partido Republicano. Os defensores de Trump lembraram que ele confessou ter mentido sob juramento ao depor no Congresso. O advogado foi condenado por perjúrio, fraudes bancária e fiscal. Daqui a dois meses, começa a cumprir uma pena de três anos de cadeia, reduzida por colaborar com o Ministério Público.
Em dez anos, contou o advogado, Trump o pediu para intimidar pessoas e empresas umas 500 vezes. O presidente, acrescentou, também sabia de contatos de assessores de sua campanha com o WikiLeaks, um sítio especializado em vazar informações confidenciais de empresas, políticos e países, para revelar mensagens de correio eletrônico do Partido Democrata e assim prejudicar a campanha presidencial de Hillary Clinton.
Pouco antes da Convenção Nacional do Partido Democrata, o assessor Roger Stone conversou com Trump no telefone para dizer que havia falado com Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, acusado de piratear documentos sigilosos do Departamento de Estado, relatou o advogado.
"Dentro de alguns dias, vai haver uma derrama maciça de e-mails para prejudicar a campanha de Hillary", teria dito Stone. "Não seria ótimo?", festejou Trump, na versão de seu ex-advogado.
"Sentado aqui hoje, parece inacreditável que eu estivesse tão enfeitiçado por Donald Trump que tenha querido fazer por ele coisas que eu sabia serem totalmente erradas", confessou Cohen. Quando conheceu Trump, via o atual presidente como um "ícone" e um "gigante do setor imobiliário".
Hoje e amanhã, Trump está no Vietnã para o segundo encontro de cúpula com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un. Isso suscitou protestos de deputados, parentes e assessores, alegando que o depoimento enfraquecia o presidente dos EUA no momento de uma negociação internacional importante.
"Você queria trabalhar na Casa Branca e não foi convidado para o baile", ironizou o deputado Jim Jordan, um dos mais exaltados defensores do presidente. "Não queria", respondeu Cohen. "Michael queria ser chefe da Casa Civil. Virou piada na campanha", retrucou o deputado.
"Você é um mentiroso patológico", disparou o deputado Paul Gosar. "Você está falando de mim ou do presidente?", reagiu Cohen, aconselhando os republicanos a não manchar sua honra para defender um presidente que não merece.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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