Depois de três meses de julgamento, um tribunal federal de Nova York condenou hoje o mais famoso traficante de drogas do século 21, Joaquín Guzmán Loera, mais conhecido como El Chapo (O Baixinho), poderoso chefão do Cartel de Sinaloa, no México, por todas 10 as acusações, inclusive assassinato, tráfico de drogas e formação de quadrilha. Por causa dos termos de sua extradição, ele não pode ser sentenciado à morte. Deve pegar prisão perpétua.
El Chapo ficou famoso pela brutalidade e volência, suas fugas espetaculares e sua capacidade quase ilimitada de escapar das autoridades mexicanas. O tribunal ouviu 56 testemunhas, entre elas 14 que trabalharam para ele. A sentença deve ser anunciada em 25 de junho.
Um de seus advogados, Jeffrey Lichtman, admitiu "nunca ter enfrentado um caso com tantas testemunhas cooperativas e tantas provas". O procurador-geral interino dos EUA, Matthew Whitaker, esteve no tribunal no início do julgamento e cumprimentou pessoalmente todos os procuradores.
O processo revelou que El Chapo e seus cúmplices drogavam e estupravam meninas menores de idade, treinavam ataques com bazucas, mataram usando uma arepa, uma comida da farinha de trigo com milho, com cianeto e contrataram um grupo de mariachis para tocar a noite inteira junto a uma prisão.
As armas e drogas eram contrabandeadas principalmente por túneis, assim como as fugas, mostrando a inutilidade do túnel desejado pelo presidente Donald Trump.
Mesmo com o chefão preso pelo resto da vida, o Cartel de Sinaloa não interrompeu suas atividades. Seus filhos, Los Chapitos, e Israel El Mayo Zambada García são os novos líderes do grupo. Isto ajuda a explicar o fracasso da guerra contra as drogas lançada pelo governo mexicano em 2006, com a estratégia de "cortar cabeças", pegar os chefões.
Quando o delegado e hoje deputado federal Fernando Francischini prendeu o traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, interrogou o criminoso durante nove horas. Então, Ramírez Abadía, um dos maiores fornecedores de cocaína para o Cartel de Sinaloa, pediu para fazer uma pergunta.
O delegado concordou. Entender seu raciocínio seria uma maneira de construir melhor o perfil do traficante. Este perguntou: "O Sr. acredita que a minha prisão vai mudar em um milímetro a realidade lá fora, nas ruas?" Francischini reconheceu que não.
Quando El Chapo foi preso pela última vez, em janeiro de 2016, seu maior rival, o Cartel de Jalisco, sequestrou seus dois filhos e exigiu US$ 6 milhões de resgate. Com esta fortuna, superou o Cartel de Sinaloa. É hoje a maior máfia do tráfico de drogas no mundo inteiro. Atua em 53 países e tem ligações com as máfias da Itália e da Rússia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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