Um terrorista suicida jogou hoje um veículo utilitário esportivo carregado de explosivos contra um ônibus de um comboio de policiais na região indiana da Caxemira, reivindicada pelo Paquistão.
Foi o pior atentado em 30 anos de rebelião de grupos muçulmanos que lutam para integrar a Caxemira ao Paquistão. Pelo menos 46 policiais morreram e outros 38 saíram feridos, noticiou o jornal indiano Hindustan Times.
A Índia acusa o Paquistão de apoiar o grupo terrorista muçulmano Jaish-e-Mohamed, o Exército de Maomé. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, candidato à reeleição nas próximas eleições, previstas para abril e maio, condenou o atentado "abjeto" e "degradante", e advertiu que os responsáveis vão pagar "um preço alto". O Ministério do Exterior da Índia apelou ao vizinho Paquistão para "parar de apoiar terroristas".
O comboio de 78 ônibus levava 2,5 mil pessoas de Jamu para Srinagar, a capital do estado indiano de Jamu e Caxemira. O ataque contra a Força Policial Central da Reserva (CRPF, em inglês) aconteceu na localidade de Lethpora, a 30 quilômetros de Srinagar.
Ao reivindicar a autoria do atentado, o Exército de Maomé identificou o "mártir" como Adil Ahmad Dar, do distrito de Pulwana, onde ocorreu o atentado. O fato de ser da região pode indicar que o conflito se tornou mais local. Ele aderiu ao grupo terrorista no ano passado. O carro levava 350 quilos de explosivos.
"O sacrifício de nosso bravo pessoal de segurança não será em vão", afirmou o primeiro-ministro Modi. "A nação inteira está unida ombro a ombro com as famílias de nossos corajosos mártires. Que os feridos se recuperem rapidamente."
Seu maior adversário nas eleições, o líder do Partido do Congresso, Rahul Gandhi, declarou no Twitter: "Estou profundamente perturbado por um ataque covarde a um comboio da CRPF em Jamu e Caxemira no qual muitos de nossos bravos homens da CRPF foram martirizados e um grande número saiu ferido, alguns gravemente."
Em plena campanha, o porta-voz do Partido do Congresso acusou Modi, alegando que o terrorismo não diminuiu durante seu governo.
O maior impacto será nas relações entre Índia e Paquistão, inimigos históricos que têm a região da Caxemira como fogo principal do conflito.
Quando a Índia se tornou independente do Império Britânico, em 1947, e foi dividida em Índia e Paquistão, os governadores das províncias tiveram o direito de optar a que país queriam pertencer. Houve uma migração em massa de 10 milhões de pessoas, a maior da história, e cerca de 1 milhão de pessoas morreram, conta a televisão pública britânica BBC.
Todos os estados de maioria muçulmana ficaram no Paquistão, menos a Caxemira, onde o marajá Hari Singh optou pela Índia, semeando um conflito histórico que se arrasta até hoje. O Paquistão exige a realização de um plebiscito sob supervisão das Nações Unidas para que a população local decida seu futuro, mas a Índia se nega a internacionalizar o conflito.
Desde a independência, os dois países já travaram três guerras, em 1947, 1965 e 1971, quando a Índia apoiou a independência do antigo Paquistão Oriental, Bengala Oriental no período imperial, hoje a República de Bengala ou Bangladesh.
Em maio de 1998, os dois países assumiram oficialmente o status de potências nucleares. Provavelmente, já tivessem a bomba atômica desde os anos 1970s. A dissuasão nuclear evitou novas guerras abertas que hoje seriam arrasadoras. Em 1999, houve um conflito armado em Kargil, um distrito da Caxemira onde soldados paquistaneses se infiltraram disfarçados de guerrilheiros, com mais de mil mortes, mas foi contido na região.
Como a Índia é mais rica e mais poderosa, o Exército do Paquistão, que governou o país durante metade de sua existência, apoia milícias extremistas muçulmanas como o Exército de Maomé. O governador de Jamu e Caxemira, Satya Pal Malik, acusou o Paquistão, argumentando que o grupo terrorista baseado no país vizinho não assumiria a responsabilidade pelo ataque sem o apoio dos militares paquistaneses.
Foi muito pior do que o ataque à cidade de Uri, na Caxemira, em 18 de setembro de 2016, atribuído ao Exército de Maomé, em que 19 soldados e quatro rebeldes morreram.
"Isto é muito maior do que Uri", observou o general Deependra Singh Hooda, ex-comandante-em-chefe do Comando Norte do Exército da Índia, responsável pela região da Caxemira.
"Ao contrário de Uri, um grupo terrorista baseado no Paquistão assumiu a responsabilidade. Vai haver uma enorme pressão sobre o Paquistão. Mas", destacou, "como um grupo baseado no Paquistão assumiu a responsabilidade, Nova Déli terá de agir. A forma e o conteúdo da retaliação são prerrogativa do governo."
Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro Modi preside a uma reunião de seu gabinete de segurança para decidir como será a reação oficial da Índia. O Ministério do Exterior indiano repudiou "o ataque odioso e degradante perpetrado pelo Exército de Maomé, uma organização terrorista proscrita pela ONU e vários países baseada no Paquistão e apoiada pelo Paquistão".
A declaração oficial do governo indiano pediu que o líder do grupo, Massud Azhar, tenha seu nome lançado na lista de terroristas do comitê de sanções do Conselho de Segurança da ONU.
O pior atentado em 30 anos de insurgência muçulmana na Caxemira indiana apoiada pelo Paquistão marca uma mudança de tática dos rebeldes, que geralmente faziam ataques coordenados a quartéis da Índia. Com carros-bomba, podem fazer mais ações surpreendentes com grande poder de destruição.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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