Em uma rara entrevista coletiva em Pyongyang, o ministro do Exterior da Coreia do Norte, Ri Yong Ho, apresentou uma versão diferente da americana sobre o fracasso do encontro de cúpula do presidente dos Estados Unidos com o ditador Kim Jong Un. Ri negou que seu governo tenha exigido a suspensão total das sanções econômicas internacionais contra seu programa nuclear e indicou que as negociações estão estagnadas.
Kim e Donald Trump se encontraram ontem e hoje pela segunda vez para negociar um acordo para desnuclearizar a Península Coreana. A reunião terminou duas horas antes do previsto. Em entrevista coletiva em Hanói, no Vietnã, o local do encontro, Trump e o secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmaram que a Coreia do Norte exigiu o fim das sanções em troca da destruição de uma de suas instalações nucleares.
"Às vezes, é preciso se retirar", alegou o presidente americano, acrescentando que as negociações continuam e que as relações pessoais dele com Kim são excelentes. Trump chegou a dizer que acredita no ditador quando diz que Kim não sabia da prisão e tortura do estudante americano Otto Warmbier, que ficou preso um ano e cinco meses na Coreia do Norte e morreu pouco depois de voltar aos EUA.
Não houve declaração final nem o almoço programado, mas o secretário de Estado garantiu que houve avanços. A Coreia do Norte não confirmou, indicando uma estagnação no diálogo.
Havia a expectativa de que os dois países fizessem uma declaração anunciando o fim da Guerra da Coreia (1953), que terminou com um cessar-fogo, sem que até hoje tenha sido firmado um acordo de paz. Isto poderia levar a uma pressão da Coreia do Norte e da China para a retirada dos 28,5 mil soldados americanos baseados na Coreia do Sul.
Uma das possibilidades de acordo seria o desmantelamento da central nuclear de Yongbion em troca de uma suspensão parcial das sanções econômicas para permitir o reinício das atividades do complexo industrial de Kaesong, no Norte, onde empresas sul-coreanas empregam trabalhadores norte-coreanos.
Neste caso, o alívio parcial das sanções poderia levar a China e a Rússia, rivais dos EUA, a parar de impor as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. O governo Trump considera a pressão econ ômica essencial para obter concessões do regime stalinista de Pyongyang.
"A impressão que eu tenho é que nosso chefe de Estado parece ter dificuldade em entender a posição dos EUA", afirmou a vice-ministra do Exterior norte-coreana, Choe Son Hui. "Sinto que ele perdeu a vontade de se engajar na negociação de um acordo com os EUA dizendo que mesmo um levantamento parcial das sanções sobre a economia civil seria difícil."
Os EUA insistiram que as sanções só serem retiradas quando a Coreia do Norte aceitar uma desnuclearização total, verificável e irreversível. Yongbion é o principal centro de pesquisas nucleares e a única fonte de plutônio para fabricar bombas atômicas, mas outras instalações produzem urânio enriquecido, outra carga de armas nucleares.
"É difícil dizer se será possível um acordo melhor do que um baseado na nossa atual proposta", comentou o ministro do Exterior norte-coreano. "Nossa posição central não vai mudar, mesmo que os EUA proponham novas negociações no futuro." Esta frase sugere um congelamento do diálogo.
Nenhum analista sério acredita que a ditadura comunista da Coreia do Norte esteja disposta a entregar todas as armas nucleares produzidas com anos de grande esforço e vistas como última garantia de sobrevivência do regime. O país teria entre 20 e 65 ogivas nucleares.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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