sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

EUA rompem acordo nuclear com Rússia num prenúncio de corrida armamentista

Os Estados Unidos vão abandonar o primeiro acordo nuclear que reduziu o número de armas atômicas, um marco no degelo da Guerra Fria, acusando a Rússia de desrespeitá-lo, anunciou hoje o secretário de Estado, Mike Pompeo, iniciando uma contagem regressiva de seis para meses para a saída definitiva.

O Tratado sobre Forças Nucleares Intermediárias (INF), assinado pelos então presidentes americano, Ronald Reagan, e soviético, Mikhail Gorbachev, em 8 de dezembro de 1987 na Casa Branca, eliminou os mísseis nucleares de curto e médio alcances, com raio de ação de 500 a 5,5 mil quilômetros, instalados na Europa e na antiga União Soviética.

A Rússia tem agora seis meses para acabar com o programa de mísseis 9M729, considerado uma violação pelos EUA, que acusam o Kremlin de desenvolver armas proibidas pelo tratado desde 2014. Moscou teria cerca de 100 mísseis deste tipo. Uma ruptura tende a provocar uma nova corrida armamentista nuclear, agora com a participação também da China.

"Durante anos, a Rússia violou os termos do INF sem remorso", afirmou Pompeo, acrescentando que os EUA continuam cumprindo suas obrigações na expectativa de que a Rússia faça o mesmo. "Quando um acordo é ignorado de maneira tão flagrante e nossa segurança é tão ameaçada, temos de responder."

O presidente Donald Trump acusou a Rússia: "Os EUA aderiram totalmente ao tratado INF por mais de 30 anos, mas não vamos ser constrangidos por seus termos enquanto a Rússia o desrespeita. Não podemos ser o único país do mundo amarrado unilateralmente por este ou qualquer outro tratado."

Trump anunciou uma retomada no desenvolvimento de mísseis nucleares intermediários: "Vamos avançar no desenvolvimento de nossas próprias opções militares de resposta e vamos trabalhar com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e outros aliados para negar à Rússia qualquer vantagem militar por sua conduta ilegal."

Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, lamentou a decisão americana e acusou Washington de "não querer realizar nenhuma conversa substancial" para salvar o acordo.

"Não há dúvida de que no fim os americanos vão deixar o tratado", reagiu o vice-ministro do Exterior russo, Serguei Riabkov. Será um duro golpe no atual sistema internacional de controle de armas e não proliferação de armas de destruição em massa."

Pompeo prometeu manter o diálogo, enquanto o secretário-geral da OTAN, Jens Soltenberg, declarou que cabe à Rússia cumprir o tratado. Mas há outro aspecto importante na ruptura americana. O acordo assinado entre os EUA e a URSS não inclui a China, que está desenvolvendo mísseis de curto e médio alcances, ameaçando interesses e aliados americanos na Ásia.

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