Na primeira reunião de trabalho para preparar o encontro de cúpula do presidente Donald Trump com o ditador Kim Jong Un, na semana passada, a Coreia do Norte exigiu um relaxamento parcial das sanções econômicas para aceitar inspeções internacionais em suas instalações nucleares.
Os Estados Unidos ofereceram uma declaração de fim da Guerra da Coreia (1950-53). Só admitem, no discurso, relaxar as sanções quando houver uma desnuclearização efetiva, que exigem que seja "completa, verificável e irreversível".
Trump e Kim vão se encontrar em Hanói, no Vietnã, em 27 e 28 de fevereiro. Na primeira reunião de cúpula de um presidente dos EUA no exercício do cargo com um ditador da Coreia do Norte, em 12 de junho de 2018, em Cingapura, eles se comprometeram a acabar com a Guerra da Coreia e a desnuclearizar a Península Coreana. Desde então, não houve muito progresso.
O governo Trump insistiu várias vezes em que o regime comunista norte-coreano apresentasse um cronograma para entregar 60% a 70% de suas armas nucleares dentro de seis a nove meses. Mas o diretor nacional de Inteligência, Dan Coates, e outros chefes dos serviços secretos dos EUA consideram difícil que Pyongyang abra mão de todas suas armas atômicas, que desenvolveu como a garantia de sobrevivência do regime.
De acordo com um alto funcionário da Coreia do Sul, Kim reafirmou na primeira reunião de trabalho preparatória, realizada em Pyongyang de 6 a 8 de fevereiro, a proposta de desmantelar a central nuclear de Yongbion. Em troca, pediu um relaxamento das sanções para permitir inspeções.
A equipe de negociações da Coreia do Norte indicou que "poderia ser mais generosa" em troca de um relaxamento parcial das sanções. Os EUA pretendiam assinar uma declaração conjunta de fim da Guerra da Coreia quando as inspeções na central nuclear de Yongbion estivessem encerradas.
Publicamente, o enviado especial do Departamento de Estado para a Coreia do Norte, Stephen Biegun, declarou sempre que os EUA não levantariam as sanções. Nas negociações, teria acenado aos norte-coreanos que seria possível se oferecessem "Yongbion e algo mais".
Um levantamento parcial de sanções poderia permitir a retomada das atividades do complexo industrial de Kaesong, no Norte, onde empresas sul-coreanas empregam mão de obra norte-coreana, a reabertura do turismo no Monte Kumgang ou aumentar o limite da quantidade de petróleo que o país é autorizado a importar com base na Resolução 2.397 do Conselho de Segurança da ONU.
O regime comunista de Pyongyang quer a declaração de fim da guerra, que pode levar a pressões para que os EUA retirem os 28,5 mil soldados que mantêm até hoje na Coreia do Sul. Mas a preocupação imediata são as sanções econômicas.
Trump acredita que as sanções forçaram Kim a negociar. Considera a economia a maior arma dos EUA, pelo menos enquanto sua paixão pelo ditador norte-coreano descartar a opção militar.
Uma saída para o impasse seria um aumento da cooperação econômica entre as duas Coreias. Afinal, a Coreia do Sul é uma grande interessada na paz com o Norte, agora armado com bombas atômicas.
Como 70% das instalações nucleares norte-coreana conhecidas estão em Yongbion, inspecioná-las poderia apontar outros ramos do programa atômico da Coreia do Norte e desmontá-las seria um passo importante para a paz. Yongbion tem valor.
A próxima reunião preparatória será na próxima semana, entre Biegun e o encarregado de relações com os EUA da Comissão de Negócios de Estado da Coreia do Norte, Kim Hyok Chol.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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