Mais de 60% dos eleitores consideraram o candidato centrista e independente Emmanuel Macron o vencedor do único debate antes do segundo turno da eleição presidencial na França, marcado para este domingo, 7 de maio de 2017.
Sua adversária, a candidata neofascista Marine Le Pen, da Frente Nacional, interrompeu-o todo o tempo, foi irônica e provocante, sem desestabilizar o favorito. As pesquisas dão uma vantagem a Macron de 60% a 40% com pequenas variações.
Com seu discurso banal de ideias simplistas, Le Pen tentou apresentar Macron como o candidato da "globalização selvagem", da submissão aos interesses estrangeiros e às "potências financeiras", prometeu fechar as fronteiras, expulsar os imigrantes ilegais e proteger o trabalhador francês da concorrência internacional.
Macron optou por passar uma imagem confiante, de quem acredita no futuro da França mas não se deixa seduzir por soluções fáceis. Ele defende reformas na lei trabalhista e na previdência para reduzir os custos de abrir uma empresa na França, combater o desemprego e facilitar o desenvolvimento do setor de alta tecnologia.
"O Sr. Macron é a escolha da mundialização selvagem, da uberização, da precariedade, da guerra de todos contra todos, da ruína econômica, notadamente de nossos grandes grupos, do desmantelamento da França, do comunitarismo", atacou a candidato neonazista.
Em desvantagem de cerca de 20 pontos nas pesquisas, Marine desatou sua fúria de candidata da raiva e da cólera: "Os franceses puderam ver o verdadeiro Macron neste segundo turno: a benevolência deu lugar à insinuação, o sorriso estudado se transformou em rito feito sob medida para o encontro, é o filho querido do sistema e das elites, a máscara caiu."
Diante da agressividade da ultradireitista, o candidato do movimento Em Marcha acusou a rival de ser "herdeira de um nome, de um partido político e de um sistema que prospera sobre a cólera dos franceses depois de tantos e tantos anos", de um partido que mente e infantiliza os eleitores e aposta na cólera e na raiva.
A seguir, argumentou que a brutalidade do discurso de Le Pen demonstra que ela "não é uma candidata no espírito da fineza, da vontade de um debate democrático, equilibrado e aberto."
Isso não afastou Marine da linha de identificar Macron com o sistema dominante e com o presidente François Hollande, o mais impopular da história recente da França: "Sr. ministro da Economia, sr. assessor de Hollande", "filho pródigo do sistema e das elites" e "Hollande júnior".
A candidata de extrema direita afirmou ainda que "ele tenta esconder que participou de um governo que aprovou a Lei Khomri, uma lei de precarização do trabalho que criou um desemprego ainda maior".
No discurso lepenista, a "filosofia" política de seu adversário se resume a "tudo se vende e tudo se compra, os homens, as lojas, você não vê relações humanas, as relações só interessam pelos dividendos que se possa tirar."
Macron contra-atacou a doutrina econômica da Frente Nacional: "Você não vai cortar nenhuma despesa, vai deixar aumentar o déficit e a dependência do mercado financeiro, seja aumentando impostos, seja aumentando a dívida que nossos filhos pagarão."
O candidato independente chamou a FN de "partido dos negócios". Le Pen acusou Macron de ter uma conta nas Bahamas, um paraíso fiscal. "É difamação", reagiu o favorito.
"A França será governada por uma mulher, por mim ou por Madame Angela Merkel", afirmou Le Pen.
Depois dos atentados dos últimos anos, o terrorismo é outro tema central da campanha eleitoral francesa. Marine chamou Macron de "complacente com o fundamentalismo islâmico". Ela propõe fechar as fronteiras e expulsar os imigrantes ilegais.
"O terrorismo e a ameaça terrorista são uma prioridade nos próximos anos", respondeu o ex-ministro da Economia. "Desde novembro de 2015, restabelecemos o controle de fronteiras e interpelamos 60 mil pessoas. O que você propõe é pó de pirlimpimpim", ironizou o centrista.
"A chave é identificar as ameaças", prosseguiu Macron. "Os terroristas não avisam quando cruzam as fronteiras. Temos a necessidade de uma cooperação maior com os países-membros da União Europeia, para poder controlar através de bancos de dados os terroristas em potencial que circulem de um território a outro, ao cruzarem fronteiras ou tomarem aviões. Você votou contra no Parlamento Europeu."
Ele declarou que "o sonho dos jihadistas é que Marine Le Pen chegue ao poder na França, porque eles querem a radicalização e a guerra civil que você oferece ao país, a armadilha da guerra civil a que eles nos tentam ao insultar os franceses e criar problemas no país."
No plano internacional, além do terorismo, os candidatos discutiram a união monetária europeia e as relações com a Rússia, financiadora da Frente Nacional.
"O euro é a moeda dos banqueiros, não é a moeda do povo" e "esta é a razão pela qual precisamos nos livrar desta moeda", disparou Marine, defensora da recriação do franco. Num período intermediário, as duas moedas coexistiriam, como de 1999 a 2002, quando o euro foi introduzido como moeda contábil mas ainda não estava em circulação.
Mais uma vez, Macron desqualificou as propostas econômica da ultradireita como voluntaristas e fora da realidade: "Uma grande empresa não poderá de um lado fazer negócios em euros e do outro pagar salários em francos. Isso jamais existiu. Minha visão é construir um euro forte e uma política europeia forte dentro da qual defenderemos os interesses da França."
A França de Le Pen "deve se manter equidistante da Rússia e dos Estados Unidos. Não temos nenhuma razão para entrar numa guerra fria com a Rússia. Temos todas as razões para manter relações diplomáticas e comerciais.
O candidato independente é a favor da aliança com os EUA na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e das sanções impostas à Rússia em resposta à intervenção militar na Ucrânia e à anexação da Ucrânia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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