Quando recebeu o ministro do Exterior, Serguei Lavrov, e o embaixador da Rússia em Washington, Serguei Kislyak, na Casa Branca, em 10 de maio de 2017, o presidente Donald Trump disse a eles que a demissão do diretor-geral do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos Estados Unidos, tinha aliviado uma grande pressão.
"Acabei de demitir o chefe do FBI. Ele era um louco, um maluco", comentou Trump, de acordo um documento resumindo o encontro divulgado pelo jornal The New York Times. "Enfrentei uma grande pressão por causa da Rússia. Isso foi retirado. Eu não estou sendo investigado."
O documento, baseado em notas tomadas durante a reunião, reforça a suspeita de que a demissão do diretor do FBI foi motivada pelo inquérito presidido por ele sobre a interferência indevida da Rússia na eleição presidencial dos EUA e um possível conluio da candidatura Trump com os russos.
Isso caracteriza obstrução de justiça. É motivo suficiente para abertura de um processo de impeachment do presidente.
Pior ainda: a investigação sobre a Rússia se aproxima de um funcionário da Casa Branca próximo de Trump, noticiou o jornal The Washington Post.
A Casa Branca não questionou a veracidade do documento citado pelo NY Times. Em nota, o porta-voz Sean Spicer alegou que Comey colocou uma "pressão desnecessária" sobre o governo Trump, prejudicando as relações diplomáticas com a Rússia em questões como a Síria, a Ucrânia e o Estado Islâmico.
"Ao posar grandiosamente e politizar a investigação sobre as ações da Rússia, James Comey criou uma pressão desnecessária na nossa capacidade de negociar com a Rússia", afirmou a nota oficial. "A investigação teria continuado e obviamente a demissão de Comey não acabaria com ela. Mais uma vez, a verdadeira história é que nossa segurança nacional foi minada pelo vazamento de conversas privadas e altamente confidenciais."
O encontro com os russos criou ainda mais problemas para Trump, quando o jornal The Washington Post revelou que o presidente passou ao russos informações ultrassecretas descobertas pelo serviço secreto de Israel.
Outro funcionário do governo defendeu Trump sob o argumento de que as conversas faziam parte da tática de negociação do presidente para mostrar aos russos que sua política de reaproximação com a Rússia tinha um elevado custo pessoal.
Depois de divulgação de um memorando interno do FBI em que Comey acusa Trump de pressioná-lo a encerrar a investigação sobre o general Michael Flynn, ex-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, o Departamento de Justiça nomeou o ex-diretor do FBI Robert Mueller como procurador especial. Ele vai presidir o inquérito sobre a Rússia, a eleição e um possível conluio com a candidatura Trump.
Ontem, no seu primeiro comentário a respeito, em entrevista coletiva na Casa Branca, Trump declarou ser vítima da "maior caça às bruxas da história" dos EUA. Mas ele mesmo admitiu, em entrevista à rede de televisão NBC, que demitiu Comey por causa da investigação sobre a Rússia: "Quando decidi fazer isso, disse a mim mesmo, você sabe, essa história da Rússia com Trump é uma história fabricada."
Hoje, Trump embarcou para sua primeira viagem ao exterior. Começa pela Arábia Saudita, onde os EUA esperam vender US$ 110 bilhões em armas e articular uma aliança de países árabes sunitas contra o Irã e o terrorismo islâmico. Depois, vai a Israel, à Itália e à Bélgica.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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