Com mais de 65% dos votos, o ex-ministro da Economia e candidato independente Emmanuel Macron foi eleito hoje aos 39 anos como o presidente mais jovem da história da França, anunciou a televisão francesa France 2 com base em pesquisas de boca de urna, derrotando a neofascista Marine Le Pen, da ultradireitista Frente Nacional.
O general Napoleão Bonaparte coroou-se imperador em 1804 aos 34 anos, quando a Revolução Francesa de 1789 havia dizimado a classe dirigente. Desde então, a França não teve um chefe de Estado tão jovem.
No final da apuração, o centrista Macron teve 20.30.964 votos (66%) contra 10.637.120 (34%) para a ultranacionalista Marine. O índice de abstenção, de 25%, foi recorde para a 5ª República, fundada em 1958 pelo general Charles de Gaulle.
Macron é um presidente acidental. Há um ano, deixou o governo François Hollande, o mais impopular da 5ª República, e lançou seu movimento Em Marcha! de olho no Palácio do Eliseu. Mas tinha poucas chances. Jovem, preparava-se para o futuro.
Depois das eleições primárias de centro-direita e centro-esquerda, com 30% das preferências, o favorito era o ex-primeiro-ministro conservador François Fillon, do partido gaulista Os Republicanos, o mais tradicional do país, que presidiu a França com De Gaulle, Georges Pompidou, Jacques Chirac e Nikolas Sarkozy.
Quando o jornal satírico Le Canard enchainé revelou que Fillon empregara a mulher e os filhos como funcionários-fantasmas do Senado, sua candidatura desabou, mas ele se negou a sair. Ao aceitar mantê-lo, Os Republicanos deram um tiro no pé.
Fillon ainda teve 20% dos votos no primeiro turno, apenas 465 mil a menos do que Le Pen, mas boa parte do eleitorado de centro-direita migrou para o candidato independente e centrista. Macron pretende se equilibrar entre os moderados à direita e à esquerda. Seu desafio agora é conseguir maioria na Assembleia Nacional nas eleições legislativas de 11 e 18 de junho de 2017.
Uma pesquisa divulgada depois da eleição presidencial indica que 61% dos franceses não querem dar maioria absoluta ao novo presidente, que teria de formar uma coalizão entre centro, direita e esquerda moderada, um equilíbrio difícil e inédito na 5ª República.
Com a impopularidade do presidente Hollande, seu ex-primeiro-ministro Manuel Valls perdeu a eleição primária socialista para o ex-ministro da Educação Benoît Hamon, que nunca teve chance. Dentro do partido, Macron era considerado liberal demais.
O eleitorado de esquerda também migrou para o ex-ministro da Economia ou para a candidatura de ultraesquerda de Jean-Luc Mélenchon, que teve 19,58% no primeiro turno, dando apenas 6,36% dos votos a Hamon no primeiro turno.
No segundo turno, Fillon e Hamon apoiaram Macron para barrar a ascensão da Frente Nacional. Mélenchon se negou a endossar Macron. Chegou a pedir que o candidato centrista desistisse da reforma trabalhista. Foi ironizado por um humorista:
- Onde você estava quando os fascistas chegaram ao poder?
- O outro candidato ia fazer uma reforma trabalhista.
O PS, dividido pela candidatura social liberal de Macron, é o partido que mais deve perder deputados para Em Marcha! nas eleições do próximo mês.
Neste momento, ao reconhecer a derrota, Marine Le Pen agradeceu aos "11 milhões de franceses" (na verdade, 10,6 milhões) que votaram na extrema direita e declarou que a Frente Nacional é hoje a maior força de oposição da França, em defesa da segurança, da identidade nacional e da luta contra a globalização e a imigração, as grandes bandeiras do partido.
"Este segundo turno faz uma grande recomposição política em torno da clivagem entre patriotas e mundialistas", afirmou Marine, marcando posição. Mas dificilmente seu partido terá uma bancada capaz de liderar a oposição na Assembleia Nacional.
O presidente eleito fez campanha em defesa da democracia liberal, da economia de mercado, da globalização e da União Europeia, em claro contraste com as propostas isolacionistas e protecionistas dos ultranacionalistas. Sua vitória é uma derrota do neopopulismo que levou à aprovação da saída britânica da União Europeia e o magnata imobiliário Donald Trump à Casa Branca, no ano passado.
No discurso da vitória, diante da pirâmide de vidro da entrada do Museu do Louvre, Macron prometeu trabalhar para que os extremismos voltem para a margem da política francesa. Em Paris, ele teve 90% dos votos, anunciou a prefeita socialista Anne Hidalgo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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