Dias antes de ser demitido, o diretor-geral do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos Estados Unidos, James Comey, pediu ao Departamento da Justiça mais dinheiro para a investigação sobre a interferência da Rússia na eleição presidencial americana e possível conluio com a candidatura Donald Trump, revelou hoje o jornal The New York Times citando como fonte altos funcionários do Congresso, inclusive o senador Richard Durbin.
O diretor demitido ontem pelo presidente Trump fez o pedido ao subprocurador-geral Rod Rosenstein, autor do memorando do Departamento de Justiça usado para justificar seu afastamento.
"Assim que Rosenstein assumiu, houve um pedido de recursos adicionais para a investigação e, poucos dias depois, ele foi demitido", declarou o senador democrata Richard Durbin. "Penso que a operação de Comey estivesse bafejando a nuca da campanha de Trump e seus assessores, e este foi um esforço para retardar a investigação."
Rosenstein é o mais alto funcionário a supervisionar a investigação. O ministro da Justiça e procurador-geral, Jeff Sessions, declarou-se impedido de presidir o inquérito por ter se encontrado com o embaixador russo em Washington e negado.
O Departamento da Justiça negou que o FBI tenha pedido mais dinheiro. Comey era um alto funcionário independente. Trump preza a lealdade. Na carta de demissão, deixou claro que pelo menos três vezes o diretor demitido teria lhe dito que não estava sendo investigado.
Em 28 de outubro de 2016, 11 dias antes da eleição presidencial, Comey rompeu a tradição do FBI de não se envolver em política. Revelou em carta ao Congresso que tinham sido descobertos mais mensagens da candidata democrata Hillary Clinton no inquérito sobre o uso de uma conta privada de correio eletrônico por ela quando secretária de Estado do primeiro governo Barack Obama.
Comey considerou Hillary "extremamente descuidada" com segredos de Estado, mas decidiu não indiciá-la. Foi um comentário que vai além do esperado para um diretor do FBI.
Na época, Comey foi duramente criticado pelo Partido Democrata, que pediu sua demissão, e elogiado por Trump, que afirmou ter recuperado sua "credibilidade". Em entrevista na semana passada, Hillary atribuiu sua derrota à declaração e à interferência da Rússia na eleição presidencial dos EUA.
Dentro do FBI, quem trabalhou perto de Comey acredita que ele não quis interferir na eleição. As pesquisas apontavam a vitória de Hillary. Ele teria ficado com medo de ser acusado de esconder um fato relevante.
Ao depor no Senado na semana passada, Comey disse se sentir "levemente nauseado" com a sugestão de que possa ter influenciado o resultado da eleição de 8 de novembro. Quando assistia ao depoimento, o presidente teria tomado a decisão de demiti-lo.
O governo Trump usou a confusão no inquérito sobre Hillary para justificar a demissão do diretor do FBI no terceiro de 10 anos de mandato. Pouca gente acredita nisso. Trump leva a lealdade para o laudo pessoal e está irritado com a investigação sobre a Rússia.
Sua atitude foi um tiro pela culatra. Não vai parar a investigação e, no Congresso, até mesmo membros do Partido Republicano, inclusive o senador John McCain, pedem a nomeação de um procurador independente para chefiar o inquérito.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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