Diante de comentários preconceituosos contra a família de um soldado americano muçulmano morto na invasão do Iraque, o presidente Barack Obama desfechou ontem seu ataque mais duro contra o candidato republicano Donald Trump, declarando-o "inapto" e "totalmente despreparado" para governar os Estados Unidos. Obama desafiou a cúpula da oposição retirar seu apoio a Trump.
"Sim, penso que o candidato republicano é inapto para ser presidente", confirmou Obama em entrevista coletiva na Casa Branca durante visita do primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong.
"Eu disse isso na semana passada e ele continua provando isso", disparou o presidente. "A noção de que se possa atacar uma família com a Estrela Dourada [em que alguém morreu em combate], que fez extraordinários sacrifícios em benefício do nosso país, o fato de que ele não parece ter o conhecimento básico sobre questões críticas na Europa, no Oriente Médio e na Ásia indicam que está totalmente despreparado para o cargo."
Depois dos ataques ao ex-governador da Flórida Jeb Bush nas primárias, a família Bush se afastou de Trump. George Bush pai e filho são os únicos ex-presidentes republicanos vivos. Não foram à convenção do partido.
Os oradores da convenção nacional democrata evitaram criticar o governo George W. Bush e responsabilizar o último governo republicano pela crise econômica. Não querem perder os votos de republicanos anti-Trump.
Um grande número de caciques republicanos rejeita as declarações de Trump, mas continua a apoiá-lo como candidato do partido. Obama criticou esta dubiedade: "Se vocês repetidamente têm de dizer, em termos muito fortes, que o que ele diz é inaceitável, por que ainda o apoiam? O que isso diz sobre um partido que tem este porta-bandeira?"
O presidente foi duro: "Esta não é uma situação em que você tem uma gafe episódica. Diariamente, semanalmente, vocês estão se distanciando das declarações que ele está fazendo. Tem de chegar um ponto em que vocês digam: 'este cara é alguém que eu não posso apoiar para presidente dos EUA, mesmo se ele pretender ser um membro do meu partido'. O fato de que isto ainda não tenha acontecido torna algumas dessas condenações vazias."
Obama disse acreditar na sinceridade da cúpula oposicionista, mas desqualificou o magnata imobiliário: "Tem de haver um ponto em que vocês digam que alguém que faz estes tipos de declarações não tem o julgamento, o temperamento e a compreensão para ocupar o cargo mais poderoso do mundo."
Os adversários de Obama, McCain em 2008 e o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney em 2012, são políticos tradicionais e moderados.
"Houve presidentes republicanos dos quais discordei, mas não tinha dúvida de que poderia servir como presidentes", declarou Obama. "Acredito que eu estava certo e que Romney e McCain estavam errados em certas políticas, mas nunca pensei que eles não pudessem ser presidentes", observou.
"Se tivessem ganho", continuou o presidente, "eu ficaria desapontado, mas diria aos americanos: este é seu presidente e sei que vai respeitar certas regras e normas do senso comum, terá um mínimo de decência e conhecimento suficiente sobre política econômica, política externa, nossas tradições constitucionais e o Estado de Direito, que o governo vai funcionar e que daqui a quatro anos vamos disputar de novo e tentar ganhar a eleição."
A realidade hoje é muito mais grave, advertiu o presidente: "Esta não é a situação e não é apenas a minha opinião. É a opinião de muitos republicanos eminentes. Chega um ponto em que é preciso dar um basta. A alternativa é que todo o partido, o Partido Republicano, endosse e valide efetivamente as posições que têm sido articuladas por Donald Trump. E como eu disse no meu discurso da semana passada, não acredito que representem realmente as visões de uma grande quantidade de republicanos."
Trump respondeu com um duplo ataque contra Obama e sua ex-secretária de Estado Hillary Clinton: "Obama e Clinton sozinhos desestabilizaram o Oriente Médio, entregaram o Iraque, a Líbia e a Síria ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante, e permitiram o massacre de nosso pessoal em Bengázi. Eles produziram a pior recuperação desde a Grande Depressão (1929-39). Nosso país tem sido humilhado no exterior ameaçado pelo Islã radical trazido para nossos portos. Precisamos mudar agora."
Ontem, em mais um gesto grosseiro, Trump expulsou um bebê de um comício. Depois de brincar dizendo que não havia problema porque gosta de choro de criança, num rasgo autoritário, não resistiu: "Tirem daqui este bebê."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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