O ditador do Usbequistão, Islam Karimov, presidente desde 1990, sofreu uma hemorragia cerebral há dois dias e está hospitalizado em estado grave, deixando uma situação de incerteza nesta ex-república soviética da Ásia Central. Há boatos de que o presidente morreu.
Sob seu comando, o país de 30 milhões de habitantes se tornou independente da União Soviética, em 1991, mas continuou refém do autoritarismo. Karimov, nomeado primeiro-secretário do Partido Comunista no Usbequistão em 1989, manteve a censura aos meios de comunicação e a repressão brutal às oposições políticas. Sua polícia política foi acusada de matar dissidente mergulhando-os em água fervendo.
O primeiro-ministro Chavkat Mirziyoyev é um forte candidato. Ele lidera o chamado clã de Samarcanda, uma das cidades históricas do país, que fica na Rota da Seda.
É provável que o clã de Tachkent, a capital do país, tente emplacar seu candidato. Seu líder é o chefe dos serviços secretos usbeques, Rustam Inoyatov, sempre um cargo fundamental na ex-URSS. Era considerado o homem mais poderoso do país depois do presidente.
"Todo o mundo tem medo dele, mas ele não quer ser presidente", declarou o analista Alexei Malachenko, do Centro Carnagie de Moscou.
Gulnara Karimova, a filha mais velha de Karimov, ex-diplomata e agora estrela pop, já foi vista como forte candidata à sucessão do pai, mas o enriquecimento em negócios suspeitos a queimou politicamente.
A disputa de poder abre espaço para um terceiro candidato, que pode ser o vice-primeiro-ministro Rustam Azimov, ou para uma divisão de poder entre as duas principais facções. Também é uma grande oportunidade para a Rússia tentar reafirmar sua influência.
Em política externa, Karimov mantinha uma política de neutralidade em relação a China, Rússia e Estados Unidos, resistindo às pressões do Kremlin para fazer alianças que atrelem o Usbequistão à esfera de influência russa. Também queria apresentar o país como um baluarte na luta contra o extremismo muçulmano.
A Rússia quer manter sua esfera de influência nas ex-repúblicas soviéticas. A China está interessada em revitalizar o Caminho da Seda para fortalecer seu comércio internacional. E os EUA querem apoio na guerra contra o terrorismo no Afeganistão e no Paquistão.
Mirziyoyev é considerado o candidato em potencial mais próximo de Moscou. Haverá pressões para manter a neutralidade. Uma possível disputa sucessória fragiliza o Usbequistão em meio à instabilidade geopolítica na região.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Derrame do ditador abre luta pela sucessão no Usbequistão
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2 comentários:
Ainda existe fim de mundo! Uzbequistão
É um país interessante. Fica no antigo Caminho da Seda, a rota usada por Marco Polo para ir à China no século 13. Samarcanda é uma cidade histórica muito bonita. Agora, a China quer reativar o Caminho da Seda construindo estradas e ferrovias para consolidar seu comércio com a Europa, seu maior mercado consumidor. O Usbequistão faz uma barganha nacionalista com as grandes potências, mantendo a neutralidade para não se comprometer, o que enfraqueceria sua posição negociadora.
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