domingo, 18 de janeiro de 2015

Brasil e Holanda retiram embaixadores da Indonésia

Em protesto contra a execução de seus cidadãos condenados à morte por tráfico de drogas, o Brasil e a Holanda retiraram seus embaixadores em Jacarta, a capital da Indonésia.

Os dois países, que não aceitam a pena de morte, fizeram apelos até a última hora, ignorados pelo presidente indonésio, Joko Widodo, eleito em julho de 2014 com 53% votos ao prometer, entre outras coisas, morte para traficantes. A presidente Dilma Rousseff recorreu até ao papa Francisco, sem sucesso.

Seis condenados foram fuzilados ontem na Indonésia por tráfico de drogas, cinco no complexo prisional de Nusakambangan, a 400 quilômetros da capital, inclusive o brasileiro e um holandês.

Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, era instrutor de voo livre e traficava drogas há anos na rota Rio-Amsterdã-Báli, informa a Folha de S. Paulo. Foi preso em 2003 tentando entrar no país com 13,4 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. No ano seguinte, foi condenado à morte. Desde então, tentou todos os recursos possíveis.

Maior país muçulmano do mundo, com 250 milhões de habitantes, a Indonésia é um arquipélago de 17 mil ilhas, sendo 6,6 mil habitadas, que se estende por 5 mil quilômetros entre os oceanos Índico e Pacífico.

Sua história foi marcada por um golpe anticomunista contra o fundador do país, Ahmed Sukarno, seguido de uma violenta repressão em que foram mortas de 500 a mil a 1 milhão de pessoas, em 1965 e 1966. A tragédia é contada no filme O Ano em que Vivemos Perigosamente.

O golpe levou ao poder o general Mohamed Suharto, que governou o país com mão de ferro até ser deposto numa revolta popular, em maio de 1998, em meio a uma revolta popular deflagrada pela crise econômica da Ásia. Era o início de uma lenta transição para a democracia.

Sob pressão internacional, em 1999, a Indonésia aceitou a independência do Timor Leste, uma ex-colônia portuguesa ocupada desde 1975. Uma força internacional de paz formada principalmente por australianos ocupou o lado não indonésio da ilha, mas muita gente não aceitou, especialmente os radicais islamitas.

Em 12 de outubro de 2002, um atentado terrorista cometido por extremistas muçulmanos matou 202 na paradisíaca (e no caso infernal) ilha de Báli, o principal destino turístico do país. Os principais alvos seriam jovens turistas australianos. Três condenados no caso foram fuzilados na mesma prisão, em 9 de novembro de 2008.

Há outro brasileiro no corredor da morte. Rodrigo Gularte, de 43 anos, foi preso em 2004 quando entrava na Indonésia com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe.

O governo brasileiro promete manter o diálogo para salvá-lo, mas o embaixador Paulo Alberto da Silveira Soares, convocado pela presidente Dilma em sinal de protesto, não tem muita esperança. Não acredita que o presidente indonésio aceite o último pedido de clemência. Gularte pode ser fuzilado em dois meses.

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