Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo, líder da União para a Democracia e o Progresso Social (UPDS), o maior e mais antigo partido de oposição da República Democrática do Congo, venceu a eleição presidencial de 30 de dezembro, noticiou hoje o canal de televisão France 24 citando anúncio oficial da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI).
Pelos dados da CENI, Tshisekedi recebeu -pouco mais de 7 milhões de votos ( 38,57%) contra 6,4 milhões (34,83%) para outro oposicionista, Martin Fayulu, e 4,4 milhões (23,84%) para o governista Emmanual Ramazani Sharady. Uma apuração paralela da conferência episcopal da Igreja Católica deu a vitória a Fayulu, abrindo a possibilidade de uma contestação e de violência nas ruas.
O resultado alimenta a suspeita de um acordo espúrio entre Tshisekedi e o presidente Joseph Kabila.
Se a vitória de Tshisekedi for confirmada e não houver uma reação violenta, será a primeira transição pacífica de governo desde que o Congo se tornou independente da Bélgica, em 1960, sob a liderança de Patrice Lumumba.
Aliado da União Soviética em plena Guerra Fria, Lumumba foi preso e assassinado no início de 1961 numa conspiração articulada pela CIA (Agência Central de Inteligência), o serviço de espionagem dos Estados Unidos, que levou ao poder Joseph Mobutu, ex-sargento do exército colonial belga, na Primeira Guerra Civil Congolesa (1960-64).
O presidente eleito nasceu em 13 de junho de 1963 em Kinshasa, a capital do antigo Congo Belga. É filho de Étienne Tshisekedi, que foi três vezes primeiro-ministro do ditador Joseph Mobutu, em 1991, 1992-93 e 1997, quando o país se chamava Zaire, mas também foi um dos poucos políticos a desafiar Mobutu.
A eleição presidencial foi realizada com dois anos de atraso. O mandato do presidente Joseph Kabila terminava em dezembro de 2016.
A expectativa dos analistas internacionais era de uma grande fraude eleitoral para eleger o candidato governista Sharady, especialmente depois do adiamento da divulgação dos resultados oficiais, inicialmente prevista para domingo. Com a surpreendente vitória de Tshisekedi, a suspeita permanece.
Joseph Kabila ocupava o cargo desde 2001, quando sucedeu ao pai, o guerrilheiro Laurent Kabila, que lutou ao lado do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara nos anos 1960s e resistiu, refugiado nas Montanhas da Lua, até derrubar Mobutu, em 1997.
A queda de Kabila deflagrou uma guerra civil conhecida como Primeira Guerra Mundial Africana (1997-2003), com a participação de seis exércitos nacionais (República Democrática do Congo, República do Congo, Angola, Chade, Ruanda e Zimbábue) e centenas de grupos irregulares. Mais de 5,4 milhões de pessoas morreram em combate, de fome e de doenças causadas pela guerra.
Riquíssimo em minerais, o Congo tem as maiores reservas mundiais de cobalto, 3,5 milhões de toneladas, quase três vezes mais do que a Austrália, que vem em segundo lugar. Este elemento químico é fundamental para a fabricação de baterias recarregáveis, que serão cada vez mais importante quanto mais carros elétricos entrarem em circulação.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2019
Oposicionista Félix Tshisekedi vence eleição presidencial no Congo
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