Por 432 a 202, com 230 votos de diferença, na maior derrota de um governo no Parlamento Britânico, a Câmara dos Comuns rejeitou hoje o acordo negociado pela primeira-ministra Theresa May para a saída do Reino Unido da União Europeia. Sob ameaça de uma moção de desconfiança da oposição trabalhista, May precisa superar este desafio e apresentar um novo plano de ação até segunda-feira.
Apesar de mais do esperada, a derrota esmagadora joga o Reino Unido numa de suas piores crises pós-Segunda Guerra Mundial. Se a Inglaterra é "navio que Deus na mancha ancorou", como disse o poeta Castro Alves, hoje é um navio sem rumo.
A moção de desconfiança apresentada pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, não deve derrubar o governo. O Partido Conservador está totalmente destroçado pela divisão interna em torno da Brexit (saída britânica). Seria trucidado em eleições antecipadas. Seus deputados não vão cometer suicídio político.
Corbyn está mais interessado em derrubar o governo, na esperança de vencer as próximas eleições e se tornar primeiro-ministro, do que na questão europeia, que vai definir o futuro do país.
O mercado aposta numa prorrogação do prazo prevista para a saída, 29 de março, para abrir espaço para mais negociações. Não está preocupado com a margem da derrota do governo, mas, sim, no futuro. É improvável que a UE faça as concessões necessárias para mudar uma diferença de votos tão grande.
Uma minoria de cerca de 100 deputados da ala mais direitista do Partido Conservador apoia a chamada saída dura, sem acordo com a UE. Seria um pesadelo para o mercado. Geraria uma grande quantidade de ações judiciais e uma ruptura com o mercado comum europeu, que compra quase a metade das exportações britânicas.
O Banco da Inglaterra previu uma queda de 10% no produto interno bruto em cinco anos, em caso de uma saída sem acordo. A recessão seria imediata.
Diante do impasse, talvez a única saída possível seja a convocação de uma nova consulta popular para referendar um acordo ou desistir da Brexit, mantendo o país na UE. Há um movimento popular por uma segunda votação popular. Tende a ganhar força com a indefinição no Parlamento Britânico.
A maioria da Câmara é contra uma saída dura e a maioria do eleitorado e dos deputados trabalhistas são a favor de uma segunda consulta popular. Quando sua moção de desconfiança for derrotada, talvez Corbyn volte à realidade e se dê conta de que a saída ou não da UE é muito mais importante do que sua ambição pessoal de ser primeiro-ministro britânico.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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