domingo, 6 de janeiro de 2019

Congo adia anúncio do resultado da eleição presidencial

As autoridades da República Democrática do Congo, o ex-Zaire e ex-Congo Belga, atrasaram a divulgação do resultado da eleição presidencial de 30 de dezembro de 2018, prevista para hoje. O diretor da comissão eleitoral alegou ter recebido menos da metade dos sufrágios. O anúncio oficial deve sair durante a semana.

O atraso e as inúmeras denúncias de irregularidades e manipulações do governista Partido Popular pela Reconstrução e a Democracia (PPRD) indicam uma tentativa de fraude eleitoral do grupo dominante. Isso pode deflagrar uma onda de violência, a exemplo do que aconteceu nas eleições de 2006 e 2011, e manchar a legitimidade do presidente eleito.

A Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) declarou domingo à noite que escrutinou 53% dos votos, mas não poderia divulgar resultados provisórios e reclamou de "ameaças" de diplomatas de países ocidentais, noticiou o boletim de notícias Jeune Afrique.

A poderosa conferência episcopal da Igreja Católica, o chefe da missão da União Africana, a União Europeia e o Departamento de Estado americano pressionaram a CENI a apresentar resultados de acordo com a "verdade das urnas" e a "vontade do povo congolês". A coalizão governista Frente Comum pelo Congo (FCC), majoritária na Assembleia Nacional, denunciou a "atitude partidária" da Igreja.

O presidente Joseph Kabila está entregando o cargo depois de 17 anos no poder. Herdou a chefia do país do pai, Laurent Kabila, morto durante a guerra civil congolesa, também chamada de Primeira Guerra Mundial Africana por causa do envolvimento de vários exércitos nacionais e da mortes estimadas em 5,4 milhões, em combates, por doenças ou fome

Seu pai derrubara em 1997 o ditador Joseph Mobutu, no poder desde os anos 1960s, quando o líder histórico da independência do Congo Belga, Patrice Lumumba, foi assassinado em outra guerra civil brutal.

Joseph Kabila deveria ter deixado o cargo há dois, mas adiou a eleição presidencial prevista para 27 de novembro de 2016, alegando falta de dinheiro e de condições logísticas para realizar o pleito, primeiro por um ano e depois por dois anos.

Esta eleição deveria ter sido realizada em 23 de dezembro. Foi adiada por mais uma semana depois do incêndio de 8 mil urnas eletrônicas no escritório central da CENI, em Kinshasa, a capital deste grande país do centro da África.

O candidato oficial é Emmanuel Ramazani Shadary. Os principais candidatos da oposição são Félix Tshisekedi, da União pela Democracia e o Progresso Social (UDPS), e o deputado Martin Fayulu, da Dinâmica da Oposição Política Congolesa (DO). Este último recebeu o apoio de líderes oposicionistas como o ex-vice-presidente Jean-Pierre Bemba e o ex-governador da província de Katanga Moïse Katumbi.

Se a fraude for contestada na Justiça, será uma luta contra o domínio do presidente sobre as instituições do Congo.

Uma onda de violência pode levar a sanções das potências da Europa e da América do Norte ao Congo. Será uma oportunidade para a China aumentar sua presença no país, que detém as maiores reservas mundiais de cobalto.

Em Washington, o presidente Donald Trump anunciou o envio 80 militares dos Estados Unidos ao Gabão para uma possível intervenção no Congo se houver violência política.

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