O resultado das eleições na Rússia sempre se sabe de antemão: ganha o candidato do Kremlin. Para denunciar a farsa da reeleição de Vladimir Putin em 18 de março de 2018, o principal líder da oposição, o advogado Alexei Navalny, impedido de concorrer, lançou uma campanha de boicote ao pleito e foi preso durante uma manifestação "ilegal".
Hoje centenas de jovens se reuniram no porto de Vladivostok, no extremo leste da Rússia, no Oceano Pacífico para protestar contra a fraude eleitoral de Putin. Houve manifestações em 118 cidades russas, inclusive Novossibirsk, Kurgan, Omsk, Magadan, Kemerovo e Yakutsk.
"Irei votar nas eleições quando houver uma escolha", dizia um dos cartazes em Vlaidvostok. "Putin está engolindo o futuro da Rússia."
Navalny mandou uma mensagem gravada em vídeo: "Sua própria vida está em jogo. Quanto anos mais você quer viver com estes ladrões, vermes e fanfarrões?" Ele foi proibido de registrar a candidatura em dezembro por ter sido condenado num processo com acusações forjadas.
Em Moscou, a polícia reprimiu a manifestação com violência. Navalny foi preso.
Putin domina a política da Rússia desde o ano 2000. Ele acabou com várias medidas democratizantes introduzidas depois do fim da União Soviética, em 1991. Não há mais eleições diretas para governador das 85 unidades administrativas da Federação Russa, sob o pretexto de não estimular o separatismo.
A censura e a repressão atingem a Internet, os meios de comunicação, as organizações não governamentais e qualquer movimento liberal em defesa da liberdade de expressão e de minorias como os homossexuais, acusados de fazer o jogo das potências ocidentais.
Em 2014, Putin anexou ilegalmente a península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia, e fomentou um movimento separatista no Leste da Ucrânia. Sob pressão de sanções internacionais, passou a hostilizar abertamente o Ocidente e a interferir em eleições em países democráticos. Os exemplos mais notórios foram o apoio a Donald Trump nos Estados Unidos e a Marine Le Pen na França.
Ao mesmo tempo, aproveitando a hesitação do governo Barack Obama em relação à guerra civil na Síria, interveio militarmente e voltou a tornar a Rússia numa grande potência no Oriente Médio.
Mesmo que fosse candidato, de acordo com as pesquisas, Navalny teria poucas chances de vencer Putin, que mobiliza a poderosa máquina estatal, os empresários amigos do poder e os meios de comunicação em seu favor. Assim, o candidato do Kremlin ganha todas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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