No seu primeiro Discurso sobre o Estado da União, depois de um ano na Casa Branca, o presidente Donald Trump elogiou os supostos sucessos de seu governo como os cortes de impostos, o crescimento e o desemprego, destacou o heroísmo de vários americanos presentes no plenário da Câmara, descreveu a China e a Rússia como "rivais", e anunciou planos para reformar o sistema de imigração.
Trump começou destacando os supostos sucessos de seu governo. Exaltou o heroísmo de uma oficial que resgatou flagelados pelo furacão de Houston, no Texas, e de um guarda florestal que salvou crianças nos incêndios da Califórnia.
"Não há povo com mais ousadia e coragem do que os americanos. Se houver um desafio, encaramos; se houver uma oportunidade, aproveitamos. Então o Estado da União é forte porque o povo americano é forte", declarou Trump sob aplausos do plenário do Congresso, com a presença de ministros e juízes da Suprema Corte.
Em seguida, o presidente passou a destacar os sucessos econômicos, como a queda no desemprego, uma tendência de 87 meses, que portanto começou com Barack Obama. "Os níveis de desemprego para afro-americanos e latino-americanos são os menores da história."
Como prometido, continuou Trump, "promovemos o maior corte de impostos da história dos EUA, dando um grande alívio para a classe média e os trabalhadores". Ele destacou os ganhos da classe média: "Uma família que ganhe US$ 75 mil terá seus impostos reduzidos à metade."
Entre os impostos suprimidos, está a obrigação de ter seguro-saúde do programa do governo Obama para universalizar a cobertura de saúde. Trump acabou com isso.
A alíquota do imposto de renda das empresas caiu de 35% para 21%, gabou-se o presidente. Os críticos advertem que a dívida pública interna deve crescer US$ 1,5 trilhão nos próximos dez anos e que 82% vai para o 1% mais rico.
"Desde que aprovamos os cortes de impostos, mais de 3 milhões de trabalhadores receberam bônus salariais de suas empresas. A Apple vai trazer US$ 238 bilhões e criar 20 mil empregos", acrescentou Trump. "Nunca houve um tempo melhor para o sonho americano. Juntos, podemos conquistar qualquer coisa."
"A família e a fé estão no centro da vida americana, não o Estado. Celebramos nossa polícia, nossas Forças Armadas e nossos veteranos pelo seu heroísmo", clamou Trump, todos agentes do Estado, conseguindo novos aplausos de uma assistência entusiasmada pelo seu patriotismo primário, de bandeiras e heróis.
Um menino que lançou uma campanha para plantar 40 mil bandeirinhas no túmulo de soldados mortos em guerras foi o próximo destaque de um discurso bem arquitetado pelo marketing populista de Trump, apelando mais à emoção do que à razão do eleitorado.
"Eliminamos mais regulamentações no primeiro ano do que qualquer governo na história deste país. Acabamos com a guerra contra energia e contra o belo carvão limpo. Somos hoje exportadores de energia para o mundo", alegou para defender sua política de abandonar o Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, onde as restrições que cada país deve fazer são voluntárias.
Em uma jogada que certamente aumentará sua popularidade se virar realidade, mais uma promessa cara à população: "Uma das minhas prioridades é reduzir o preço dos medicamentos. Os americanos pagam muito mais caro do que em outros países. Os preços vão cair. Fiquem atentos".
Na política comercial, se depender de Trump, acabou a era da liberalização comercial: "A era da rendição econômica acabou. Daqui para a frente, queremos comércio justo e recíproco. Vamos negociar novos acordos comerciais, proteger os trabalhadores americanos e a propriedade intelectual. Vamos reconstruir nossa indústria e nossa infraestrutura", vangloriou-se.
"Os EUA são um país de construtores. Nós construímos o Empire State building em um ano. Agora, precisamos de um ano para obter autorização para abrir uma estrada. Peço ao Congresso que faça uma lei para alocar US$ 1,5 trilhão para obras de infraestrutura, com a ajuda de estados, municípios e do setor privado. Vamos construir com corações americanos, mãos americanos", apelou o presidente.
Com os cortes de impostos, sugeriu, as empresas devem investir no treinamento de seus profissionais. Vamos apoiar famílias, dando licença-maternidade sem corte de pagamento.
Ao entrar no tema da imigração, Trump acusou os ilegais pela violência, as gangues e o tráfico de drogas na fronteira. O presidente ignora que as gangues de latino-americanos foram feitas para sobreviver em cidades como Los Angeles. Eles levaram o modelo das gangues americanas para seus países de origem.
Trump prometeu uma chance de se tornar cidadãos americanos para 1,8 milhão de imigrantes ilegais que entraram no país quando crianças, os chamados sonhadores, sem esquecer de dizer que todos os americanos são sonhadores.
Logo, apresentou sua proposta para a reforma da imigração: "Os que tiverem educação e bom caráter poderão se tornar cidadãos dos EUA durante um período de 12 anos. O segundo pilar é a segurança da fronteira. Isto significa construir um grande muro na fronteira sul", outra promessa de campanha, aplaudida pela bancada republicana.
"O terceiro pilar acaba com a loteria que dá residência a quem não mostrou qualificação e pode ameaçar a segurança dos EUA. Vamos passar a um regime de imigração baseado no mérito. O quarto pilar protege a família nuclear acabando com a imigração em cadeia. Pela atual legislação falida, um imigrante pode trazer a família inteira", o que foi garantido pela Justiça.
"Na era do terrorismo, a loteria de imigração não faz mais sentido. Assim, finalmente, teremos um sistema de imigração do século 21", afirmou.
Quando citou a China e a Rússia como ameaças, Trump entrou na área política externa pedindo ao Congresso que dê dinheiro para as Forças Armadas para que os EUA tenham uma força incontrastável. Vai pedir um recorde de US$ 716 bilhões no orçamento anual e pretende renovar todo o arsenal nuclear dos EUA.
Como não poderia deixar de ser, o presidente narcisista se atribuiu a vitória sobre a milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que começou a ser combatida por Obama em agosto de 2014. Trump manteve a estratégia.
"Terroristas não são apenas inimigos, são combatentes ilegais. No passado, libertamos centenas de terroristas que voltamos a enfrentar no campo de batalha, inclusive al-Baghdadi, o líder do Estado Islâmico. Decidi manter aberto as instalações da Baía de Guantânamo. Peço ao Congresso autorização para prender terrorismo onde quisermos, inclusive Guantânamo" , anunciou.
O centro de detenção ilegal foi instalado em fevereiro de 2002 na base naval de Guantânamo, um enclave americano em Cuba que os EUA ocupam desde a Guerra Hispano-Americana, a guerra da independência de Cuba, em que os americanos tomaram também as Filipinas. Sob Theodore Roosevelt, era o ínicio do Império Americano.
Sobre a Guerra no Afeganistão, disse que "desde o mês passado, nossos militares têm ampla liberdade para atacar e não vão conhecer nossos planos antes da hora", referência aos anúncios de retirada gradual de Obama. Desde que os EUA anunciaram a suspensão da ajuda militar ao Paquistão, a violência dos grupos extremistas muçulmanos aumentou consideravelmente, com centenas de mortos nos últimos dias.
"No mês passado, reconheci Jerusalém como capital de Israel. Imediatamente, vários países condenaram nas Nações Unidas a posição soberana dos EUA. Demos bilhões de dólares a alguns países. Peço ao Congresso que aprove lei para impedir que o dinheiro do contribuinte americano vá para países que não sejam amigos dos EUA", anunciou.
Aí voltou aos inimigos: "Também pedi ao Congresso que revise o desastroso acordo como Irã e pedi que sancione os regimes comunista e socialista de Cuba e da Venezuela. Mas nenhum país oprime mais seu próprio povo do que a Coreia do Norte. Estamos liderando uma campanha de boicote em grande escala. Não vamos repetir os erros de governos anteriores. Basta vermos o caráter depravado do líder do regime norte-coreano para ver a dimensão da ameaça", argumentou o presidente americano.
Em resposta, em nome do Partido Democrata, o deputado Joe Kennedy III, neto do senador Robert Kennedy e sobrinho-neto do presidente John Kennedy, lembrou do caos na Casa Branca nos últimos 12 meses, criticou Trump por dividir o país e elogiou os jovens imigrantes ilegais latino-americanos, falando com eles com espanhol e dizendo "vocês são parte da nossa história".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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