O presidente Vladimir Putin e seus assessores pretendem usar as eleições parlamentares de 2 de dezembro para "usurpar o poder" e impor, na prática, um regime de partido único na Rússia, acusa o ex-primeiro-ministro Mikhail Kassianov.
Chefe de governo até 2004, quando foi demitido por Putin, Kassianov é um possível candidato à Presidência da Rússia na eleição de março de 2008. Ele adverte que as eleições não serão democráticas porque as novas regras praticamente impedem a participação dos partidos não-aprovados pelo Kremlin.
Um dos sinais da conspiração em marcha, alerta o ex-primeiro-ministro, é reduzir dramaticamente o número de observadores internacionais e adiar o envio dos convites para evitar que as eleições sejam denunciadas internacionalmente como manipuladas pelo Kremlin. Mas sua incapacidade de chegar a um acordo com o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov facilita a tarefa do governo.
O próprio Putin indicou que pode ser candidato à Duma do Estado, a Câmara dos Deputados da Rússia. Assim, quando deixar a presidência, em março, poderia se tornar primeiro-ministro e continuar no poder.
"As últimas atitudes das autoridades e do presidente Putin confirmam que o grupo que está no poder hoje quer usar as próximas eleições da duma para legalizar a usurpação poder", declarou Kassianov. "A Rússia marcha para um Estado obscurantista e totalitário, e seus cidadãos precisam entender isso".
Esta mensagem não está chegando ao eleitorado. A aprovação de Putin ronda os 80%. Kassianov quase não aparece nas pesquisas de opinião. É praticamente proibido de aparecer na televisão e é constantemente pressionado por sua tentativa de criar seu próprio partido, o Povo pela Democracia e Justiça.
Kassianov alega que as exigências de que os partidos tenham pelo menos 50 mil filiados para serem registrados oficialmente, ou que coletem 200 mil assinatura, vai muito além das normas européias.
A mudança do sistema eleitoral para o voto proporcional e o aumento da votação mínima para conquistar uma cadeira no parlamento de 5% para 7% vai barrar vários pequenos partidos, deixando uma parcela do eleitorado sem representação.
O Kremlin alega que as medidas são necessárias para acabar com os "partidos de sofá", aqueles cujos membros caberiam num sofá.
Segundo as últimas pesquisas, só dois ou três partidos vão superar a cláusula de barreira de 7%. O partido Rússia Unida, de Putin, elegeria dois terços dos deputados.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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