terça-feira, 2 de julho de 2019

Irã estoura limite de urânio enriquecido que pode armazenar

O estoque de urânio enriquecido do Irã ultrapassou os 300 quilos, limite do que pode armazenar com base no acordo nuclear assinado em 2015 e abandonado pelos Estados Unidos no ano passado, revelou hoje o ministro do Exterior da República Islâmica, Mohamed Javad Zarif. A informação foi confirmada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que até agora certificava que o regime dos aiatolás estava cumprindo o acordo.

Em maio, quando fez um ano da saída do governo Donald Trump do acordo, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, anunciou a intenção de reduzir seus compromissos em relação ao acordo e retomar o enriquecimento de urânio.

Pelo acordo, a ditadura teocrática iraniana só pode enriquecer a um teor de urânio-235 de 3,67%, usado em usinas atômicas de geração de energia elétrica. Em estado natural, o urânio-235 é apenas 0,7% das jazidas deste elemento químico, o de mais alto número atômico encontrado na Terra.

O estouro do limite significa que o ritmo de enriquecimento quadruplicou em maio.

Antes do acordo, o Irã estava enriquecendo urânio a um teor de 20% para uso em equipamentos de medicina nuclear. Ameaça voltar a fazer isso a partir da próxima semana. Os especialistas entendem que não teria dificuldade de pular daí para um teor de 90% de urânio-235, a carga explosiva das bombas atômicas mais simples, e de fabricar uma arma nuclear.

O Irã criticou o sistema de pagamentos criado em janeiro pela Alemanha, a França e o Reino Unido para permitir negócios com o país sem passar pelo dólar. Mesmo com este sistema, a maioria das empresas europeias não deve fazer negócios com o Irã por medo das sanções impostas pelos EUA, que podem excluir essas empresas não só do mercado consumidor americano, mas também de transações financeiras realizadas em dólares.

Sob pressão da guerra econômica deflagrada por Trump, a economia iraniana deve encolher 6% em 2019 e a inflação deve chegar a 50%. O presidente americano acusou o Irã hoje de "estar brincando com fogo".

Trump quer renegociar o acordo para incluir regras ainda mais rígidas para proibir o Irã de ter armas nucleares e mísseis de longo e médio alcances, e de interferir em outros países do Oriente Médio apoiando grupos armados como o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) palestino e a milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus).

Em resposta, o Irã atacou navios petroleiros na região do Golfo Pérsico, derrubou um avião-espião americano não tripulado e aumentou o enriquecimento de urânio. Tenta aumentar seu poder de barganha.

Trump gostaria de se reunir com o Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, o homem-forte da ditadura teocrática iraniana. Marginalizou o presidente Hassan Rouhani, um aiatolá da ala mais moderada do regime, responsável pelo acordo firmado em 2015 com as cinco grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha para congelar por dez anos o programa nuclear militar iraniano.

Khamenei não aceita aparecer em público ao lado de Trump, como faz o ditador norte-coreano Kim Jong Un, sem um reatamento das relações diplomáticas entre os EUA e o Irã, o que hoje é totalmente impensável.

A lição que o Irã tira da bajulação de Trump a Kim é a mesma aprendida pela Índia durante a Guerra do Golfo de 1991: para ser respeitado pelos EUA, é preciso ter armas nucleares. Os EUA e aliados derrubaram Saddam Hussein, no Iraque, e Muamar Kadafi, na Líbia, que não tinham armas atômicas. A Coreia do Norte tem e Trump acaba de se tornar o primeiro presidente americano no exercício do cargo a pisar em seu território.

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