O Irã anunciou hoje a abertura de um inquérito sobre o navio petroleiro britânico capturado ontem pela Guarda Revolucionária Iraniana sob a acusação de usar a rota errada para entrar no Golfo Pérsico e bater num barco pesqueiro, "violando o código marítimo internacional".
A Alemanha, a França e o Reino Unido exigem a libertação imediata do Stena Impero, um navio-tanque de 183 metros de comprimento. O governo britânico notificou hoje Conselho de Segurança das Nações Unidas alegando que o petroleiro foi tomado em águas territoriais de Omã.
Agora, o petroleiro britânico está ancorado no porto de Porto Abás, no Sul do Irã. "Conforme a lei, depois de um acidente é preciso abrir um inquérito", afirmou o diretor-geral da Organização Marítima e Portuária da Província de Hormozgã.
A captura foi uma retaliação da República Islâmica. Em 4 de julho, a Marinha Real britânica tomou um navio-tanque do Irã no Estreito de Gibraltar com destino à Síria, que está sob sanções da União Europeia por causa da guerra civil.
Dias atrás, a Guarda Revolucionária tentou abordar outro petroleiro britânico, mas esse estava sob escolta da Marinha Real. Analistas militares criticaram as autoridades britânicas por deixar o navio navegar sem proteção depois das ameaças iranianas.
No Twitter, sem esconder o cinismo, o ministro do Exterior do Irã, Mohamed Javad Zarif, chamou de pirataria a captura do petroleiro iraniano e descreveu a ação da Guarda Revolucionária Iraniana como uma proteção às normas do direito marítimo internacional.
Zarif estava hoje na Venezuela, onde denunciou o "terrorismo econômico" dos Estados Unidos. A ditadura de Nicolás Maduro também está sob sanções impostas pelo governo Donald Trump.
Sob pressão das sanções, o Irã realiza uma série de atos de provocação. Até agora, o conflito, agravado nos últimos três meses, era entre os Estados Unidos e o Irã porque Trump abandonou o acordo nuclear assinado em 2015 pelo governo Barack Obama para congelar o programa nuclear militar iraniano.
A União Europeia tentava aliviar as sanções criando um sistema de pagamentos fora da órbita do dólar para pagar fazer negócios com o Irã. Mas as empresas europeias temem ser excluídas do mercado americano e do mercado do dólar.
Ao entrar em conflito com um país europeu que não abandonou o acordo nuclear, o Irã derruba uma ponte que poderia usar para sair do isolamento e joga Reino Unido, França e Alemanha nas mãos dos EUA.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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