A Ucrânia deu hoje mais um voto de confiança no presidente Volodymyr Zelensky, um humorista eleito em 21 de abril com 73% dos votos. Seu partido Servidor do Povo conquistou 44% dos votos nas eleições parlamentares do domingo, 21 de julho, na maior vitória neste tipo de eleições desde a independência da União Soviética, em 1991.
"Não é apenas um sinal de confiança, é também uma imensa responsabilidade para mim e minha equipe", reconheceu Zelensky.
Com o controle do Conselho Supremo da Ucrânia (Rada), o parlamento unicameral do país, o novo presidente pode iniciar as transformações profundas que prometeu durante a campanha, como um combate efetivo à corrupção, fim da imunidade parlamentar, reforma judiciária, liberalização da economia, governo eletrônico, um alinhamento maior com a União Europeia e uma solução para a guerra civil fomentada pela Rússia no Leste da Ucrânia.
O país adota um sistema de votação distrital misto. A metade das 450 cadeiras do Rada é eleita pelo voto proporcional em listas partidárias e a outra pelo voto distrital. Nos 26 distritos da região da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e nas províncias de Donetsk e Luhansk, na região da vale do Rio Don, dominada por milicianos aliados de Moscou, as eleições foram suspensas.
Assim, só quando a apuração estiver totalmente concluída será possível saber se Zelensky poderá governar sem alianças. Com 44% dos votos apurados, projeta-se uma renovação de 70% do Parlamento.
Se precisar de uma coalizão para ter maioria absoluta, Zelensky pode se aliar à União Pan-Ucraniana Pátria, partido conservador da ex-primeira-ministra Yulia Timochenko, que recebeu até agora 7,4% dos votos, ou à Voz da Ucrânia (Holos), um partido liberal e reformista fundado pelo superastro do rock ucraniano Sviatoslav Vakartchuk, que obteve 6,5% dos sufrágios. Ambos são pró-europeus.
Ao anexar a Crimeia e provocar uma guerra no Leste da Ucrânia para vingar a queda de seu aliado Viktor Yanukovich, o ditador russo Vladimir Putin passou a ser o maior inimigo do povo ucraniano. A Plataforma de Oposição, apoiada pelo Kremlin, está com 11,4% e a Solidariedade Europeia, do ex-presidente Petro Porochenko, com pouco menos de 9%.
A prioridade do novo governo é negociar um cessar-fogo definitivo no Leste da Ucrânia. Não será fácil. Putin e o nacionalismo russo consideram a Ucrânia uma parte histórica da Rússia. Na semana passada, o Kremlin anunciou a concessão de passaportes russos para os habitantes das províncias ucranianas de Donetsk e Luhansk, que estão sob controle de aliados do Kremlin.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário