quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Putin elogia Trump por retirar tropas dos EUA da Síria

Os aliados e os departamentos de seu próprio governo deploram. O secretário da Defesa , James Mattis, pede demissão por discordar da retirada da Síria. Mas o ditador da Rússia, Vladimir Putin, suspeitíssimo de ter ajudado a eleger o presidente Donald Trump, gostou. A saída faz parte do recuo estratégico dos Estados Unidos, que diminui sua presença no Oriente Médio e abre espaço para inimigos como a Rússia e o Irã.

Putin é o inimigo que Trump trata como aliado. A Rússia não perde oportunidade para fustigar e diminuir os EUA. O elogio do ditador russo é um sinal inequívoco que o presidente americano tomou mais uma vez a decisão errada.

"Não acredito que sejam necessárias. Não devemos esquecer que a presença das tropas dos EUA é ilegítima. Os EUA estão lá sem autorização das Nações Unidas nem convite do governo da Síria. A Rússia está lá porque foi convidada pelo governo sírio. Se os EUA decidiram se retirar, isso é bom", declarou Putin com o cinismo habitual.

A Rússia interveio militarmente na guerra civil da Síria em apoio ao ditador Bachar Assad em 30 de setembro de 2015. Em aliança com o Irã, garantiram a vitória do aliado e agora dominam as negociações de paz, de que os EUA não participam.

Os EUA iniciaram sua intervenção no governo Barack Obama, em agosto de 2014, para evitar o genocídio do povo yazidi e em seguida para combater a organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante depois que o grupo passou a sequestrar e matar americanos.

Ao anunciar a retirada, Trump declarou que o Estado Islâmico está derrotado. Por isso, a presença militar americana não seria mais necessária. Mas o líder do grupo, Abu Baker al-Baghdadi, está foragido e os serviços secretos ocidentais estimam que ainda haja cerca de 35 mil milicianos do Estado Islâmico na Síria e no Iraque.

No fim do dia, Trump anunciou a retirada da metade dos soldados americanos do Afeganistão, cerca de 7 mil tropas. A medida por marcar o início do fim da guerra mais longa da história dos EUA, mas deve provocar caos no país.

Os EUA atacaram o Afeganistão em 7 de outubro de 2001, para derrubar o regime da milícia extremista muçulmana dos Talebã, que abrigava a rede terrorista Al Caeda, responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro daquele ano. Até hoje, o país não foi pacificado.

Enquanto na Síria o risco é de reagrupamento do Estado Islâmico, no Afeganistão é de um colapso total do regime instalado pela intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

A retirada expõe as Forças Democráticas Sírias, uma milícia árabe-curda formada para dar combate ao Estado Islâmico em terra. Sem a presença militar americana, vão ficar sob a ameaça de duas forças hostis, o Exército da ditadura de Bachar Assad e seus aliados iranianos, de um lado, e o Exército da Turquia, que teme o separatismo curdo. Abandonar uma força que lutou pelos EUA é algo totalmente inaceitável para o secretário da Defesa.

O general James Cachorro Louco Mattis ainda tentou convencer Trump a desistir da retirada da Síria. Em sua carta de demissão, afirmou que o presidente merece ter um secretário da Defesa alinhado com suas ideias. Ele considera a China e a Rússia adversários e acredita que a segurança dos EUA depende de parcerias e alianças.

Um dos maiores danos de Trump é o ataque ao sistema multilateral criado no pós-guerra sob a inspiração do presidente Franklin Roosevelt, baseado em alianças. O recuo estratégico de Trump ameaça aliados e fortalece os inimigos dos EUA, no caso sírio, a Rússia e o Irã.

Com a saída no fim do ano do chefe da Casa Civil, general John Kelly, Mattis era o último adulto na Casa Branca, um líder com competência, força e prestígio para se opor à megalomania delirante do presidente e controlar seus arroubos. Sai em fevereiro.

Por dois anos, o general da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais viajou pelo mundo tentando convencer os aliados dos EUA de que nada havia mudado fundamentalmente. Desistiu. Seus amigos entendem que ele deveria ter pedido demissão em outubro, quando Trump mandou 5,3 mil soldados para a fronteira com o México a pretexto de contar uma caravana de miseráveis da América Central que não representam qualquer ameaça à segurança nacional dos EUA.

O grupo de adultos da Casa Branca era formado pelo secretário de Estado, Rex Tillerson, demitido e acusado publicamente por Trump, pelo ex-assessor de Segurança Nacional Herbert McMaster, pelo general Kelly e por James Mattis.

A história política dos EUA mostra que militares não pedem demissão. Cumprem uma missão. Saem quando consideram impossível cumprir a missão que lhes foi confiada. A credibilidade de Trump sofre mais um duro golpe. A rotatividade dos altos funcionários do governo é um reflexo da instabilidade e do total despreparo do presidente para liderar o país mais rico e poderoso do mundo.

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