Diante da desaceleração da economia, da expectativa de um longo período de dificuldades e da guerra comercial com os Estados Unidos, o Conselho de Estado da China anunciou ontem uma série de medidas econômicas para evitar o aumento do desemprego e a agitação social.
O governo promete reembolsar 50% dos prêmios do seguro-desemprego para empresas que não demitirem ou reduzirem as dispensas ao mínimo. Atualmente, o governo responde por apenas 2% do total.
Outras iniciativas incluem subsídios e ajudas de custo para companhias e indivíduos que derem treinamento profissional, especialmente para jovens de 16 a 24 anos. Para aumentar a confiança e os investimentos pequenas empresas e microempreendedores, o governo vai dar subsídios e avalizar empréstimos.
A grande ameaça é um aumento ainda maior do endividamento, que deve chegar a 260% do produto interno bruto no fim de 2018, pela estimativa de economistas entrevistados pela agência Bloomberg. O peso desta dívida de mais de US$ 30 bilhões, incluindo governo, empresas, bancos e indivíduos, será um poderoso freio ao crescimento futuro.
O Partido Comunista está extremamente preocupado. Sua legitimidade hoje deriva da prosperidade econômica gerada pelas reformas de Deng Xiaoping, que completam 40 anos em 13 de dezembro.
Neste período, a China passou pelo maior desenvolvimento econômico da história da humanidade, num enriquecimento que superou de longe em ritmo o crescimento do Império Britânico, da Alemanha, dos Estados Unidos e do Japão.
Para evitar o desemprego, o regime comunista convertido em capitalismo de Estado aumentou nos últimos meses o investimento em infraestrutura e ampliou o crédito, os subsídios diretos e as isenções de impostos.
Este modelo pode estar próximo do esgotamento. Isso deixa o país muito mais suscetível aos tarifaços e às pressões dos EUA de Donald Trump, que entraram numa competição estratégica para tentar conter a China e manter a supremacia tecnológica e militar americana.
Uma crise econômica profunda, com desemprego em massa, vai levar ao questionamento da liderança do ditador Xi Jinping e do monopólio de poder, do poder absoluto do Partido Comunista.
2019 é visto como uma ameaça. Os anos terminados em 9 têm uma longa história na China.
Em 4 de maio de 1919, estourou uma revolta de estudantes anti-imperialista em protesto contra a decisão da Conferência de Paz de Versalhes de deixar o Japão manter o controle sobre territórios na região de Xandong.
Em 1929, houve um conflito armado entre a União Soviética e o senhor da guerra chinês Zhang Xueling, em torno da Ferrovia do Norte da China.
Em 1939, a China resistiu à ofensiva do Exército Imperial do Japão na Batalha de Changsha, a primeira grande batalha no país durante o período da Segunda Guerra Mundial,. Na China, a guerra começara dois anos antes, em 1937, com a invasão japonesa do resto do país, depois de tomar a Manchúria em 1931.
Em 1º de outubro de 1949, a Revolução Comunista liderada por Mao Tsé-tung chegou ao poder e fundou a República Popular da China.
Em 1959, o regime comunista consolidou a ocupação do Tibete e o Dalai Lama fugiu para o exílio na Índia. Desde então, a China adota uma política de sinificação do Tibete, combatendo o lamaísmo e sua cultura como uma religião medieval.
Em 1969, houve vários conflitos armados de fronteira com a URSS. As duas potências comunistas divergiram quando Nikita Kruschev denunciou os crimes de Josef Stalin no 20º Congresso do Partido Comunista Soviético, em 1956, e romperam quando Kruschev adotou a política de coexistência pacífica com os EUA depois da Crise dos Mísseis em Cuba, em 1962.
Em 1979, a China declarou guerra ao Vietnã, que invadira o Camboja no Natal de 1978 para depor a ditadura genocida de Pol Pot, apoiada por Beijim. A guerra terminou sem vencedor claro, no que foi considerado uma vitória do Vietnã, dada a diferença de tamanho e forças dos dois países.
Na noite de 3 para 4 de junho de 1989, o Exército Popular de Libertação massacrou a revolta dos estudantes na Praça da Paz Celestial em Beijim, até hoje o maior desafio ao regime comunista desde o início das reformas modernizadores de Deng.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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