quarta-feira, 10 de outubro de 2018

EUA vão investigar desaparecimento de jornalista saudita

Um grupo de senadores dos dois partidos com representação no Congresso dos Estados Unidos enviou mensagem ao presidente Donald Trump pedindo uma investigação sobre o jornalista saudita Jamal Khashoggi, desaparecido desde que entrou no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em 2 de outubro. Trump prometeu "ir fundo" para descobrir a verdade.

Crítico da monarquia absolutista saudita, especialmente do novo príncipe-herdeiro, Mohamed ben Salman, Khashoggi vivia há dois anos num autoexílio nos EUA. Foi ao consulado em Istambul para resolver um problema burocrático relativo à sua vida no exterior.

Em 6 de outubro, sábado passado, o serviço secreto da Turquia deixou vazar a notícia de que provavelmente ele tenha sido assassinado por um grupo de agentes especiais. Seu corpo teria sido esquartejado para remoção de dentro do consulado.

No dia 2, quando Khashoggi desapareceu, 15 agentes especiais da Arábia Saudita entraram na Turquia. Fariam parte de um esquadrão da morte. Eles foram ao bazar, o mercado público de Istambul, onde compraram várias malas. Teriam levado uma serra capaz de serrar ossos humanos para esquartejar o jornalista. À noite, o grupo saiu da Turquia em dois jatinhos e voltou à Arábia Saudita.

Se o assassinato político for confirmado, os EUA devem aplicar sanções à Arábia Saudita, adverte a Comissão de Relações Exteriores do Senado, que apoia a investigação, a ser realizada pelos serviços secretos dos EUA e seus aliados no Oriente Médio.

Como Trump fez da Arábia Saudita a maior aliada dos EUA no mundo árabe, o pedido de investigação pode criar atrito entre a Casa Branca e o Capitólio sobre como proceder em caso de confirmação do crime.

A aliança histórica com a Arábia Saudita ajuda os EUA a controlar o mercado internacional do petróleo. No governo Trump, virou peça-chave na política americana para o Oriente Médio, de isolar o Irã. Prometeu comprar US$ 110 bilhões em armas imediatamente e US$ 350 bilhões em 10 anos. Foi o primeiro país visitado pelo presidente americano depois da posse.

Trump e seu genro Jared Kushner tentaram criar uma relação pessoal com o príncipe-herdeiro Mohamed ben Salman, que atropelou a linha sucessória para se tornar o homem-forte do reino e lançou o plano Arábia Saudita 2030, para modernizar a economia do país e prepará-la para a era pós-petróleo.

MbS, como é conhecido, lançou uma campanha anticorrupção que prendeu magnatas e príncipes e autorizou as mulheres a dirigir. Ao mesmo tempo, cometeu graves erros de política externa, como a intervenção na guerra civil do Iêmen em apoio ao governo deposto de Abed Rabbo Mansur Hadi contra os rebeldes hutis, apoiados pelo Irã, e a tentativa de isolar o Catar por causa de suas relações com a ditadura teocrática xiita iraniana.

Também criou uma crise diplomática com o Canadá ao reagir furiosamente a críticas ao tratamento da mulher do jornalista liberal Raif Badawi, prisioneiro político da monarquia absolutista.

Ao matar, ao que tudo indica, um dissidente no exterior, provoca uma crise internacional com a Turquia com impacto no mundo inteiro e deixa seu grande aliado na Casa Branca em posição constrangedora.

Trump declarou hoje que é "uma situação ruim" e que "vamos ao fundo", prometendo investigar o desaparecimento de Khashoggi.  Mas não quer suspender a venda de armas ao regime assassino.

Nenhum comentário: