sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Luta contra a violência sexual dá Prêmio Nobel da Paz de 2018

A ativista iraquiana dos direitos humanos Nadia Murad, uma mulher do povo yazidi que foi escrava sexual da organização terrorista Estado Islâmico, e o médico Denis Mukwege, que tratou mais de 30 mil mulheres vítimas de estupro na República Democrática do Congo, ganharam hoje o Prêmio Nobel da Paz de 2018 por sua luta contra a violência sexual como arma de guerra.

"Ao dar maior visibilidade à violência sexual em tempo de guerra", eles contribuíram para que "os criminosos sejam responsabilizados por seus atos", declarou hoje de manhã em Oslo o comitê norueguês do Nobel, responsável pelo prêmio da paz.

Nadia Murad sobreviveu ao império do terror do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, uma campanha de assassinatos em massa, sequestros, estupros e escravização do povo yazidi considerada genocida. Ela está trabalhando com a advogada Amal Clooney, mulher do ator George Clooney, para levar os líderes do Estado Islâmico à Justiça.

Os EUA entraram na guerra contra o Estado Islâmico em 5 de agosto de 2014, dois meses depois da queda de Mossul, no Iraque, quando os jihadistas cercavam o Monte Sinjar, onde a população yazidi tentava resistir à ofensiva terrorista.

Ela foi levada para Mossul e entregue a um miliciano do Estado Islâmico e virou sua escrava sexual. Três meses depois ela conseguiu fugir daquele inferno.

"O Estado Islâmico não apenas matou nossas mulheres e meninas, nos tomou como despojos de guerra, como uma mercadoria a ser comercializada", declarou Nadia ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2015. "O objetivo deles era eliminar todos os yazidis.

Aos 23 anos, em 2016, Nadia foi nomeada embaixadora da boa vontade pela ONU.

O uso da violência sexual como arma é uma das características das guerras assimétricas do mundo pós-Guerra Fria, que geralmente envolvem exércitos regulares e grupos irregulares.

É a conquista do último território, da intimidade, do ventre e da alma do inimigo. Seu impacto psicológico é tremendo, sobretudo para as mulheres, condenadas a gerar os filhos da violência do inimigo.

Nas guerras civis que destruíram a Iugoslávia, o estupro foi uma arma de guerra. Mas em nenhum lugar foi utilizado em tão larga escala como na guerra civil na República Democrática do Congo, que começa com o genocídio na vizinha Ruanda, de abril a junho de 1994, e a fuga em massa de ruandeses para o país vizinho.

Com o apoio do novo governo de Ruanda, os rebeldes do antigo Zaire, liderada por Laurent Kabila, marcharam até Kinshasa e derrubaram, em 1997, o ditador Joseph Mobutu. O colapso de uma ditadura sanguinária de três décadas deflagrou a Primeira Grande Guerra Mundial africana, disputada por seis exércitos regulares e dezenas de grupos irregulares.

Até julho de 2003, estima-se que 5,4 milhões de pessoas tenham morrido em combate, de fome e de doenças causadas pela guerra civil congolesa. Hoje, ao meio-dia, o ginecologista Denis Mukwege foi ovacionado no hospital onde trabalha, na cidade de Bukuvu.

"É uma arma de guerra usada em grande escala, mas o mundo não vê", declarou o Dr. Mukwege em entrevista como ganhador do Nobel da Paz.

O prêmio tem um sentido especial porque o próprio Nobel enfrenta uma crise resultante de abusos sexuais. Neste ano, não será entregue o Nobel de Literatura por causa de um escândalo sexual que levou à dissolução do comitê encarregado.

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