quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Comissão Europeia rejeita orçamento da Itália

Numa decisão sem precedentes, a Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), rejeitou ontem a proposta de orçamento da Itália. O governo populista adotou um tom de desafio e afirmou que não vai mudar. 

A comissão de Bruxelas viu um "um desvio sem precedentes" das regras sobre déficit e dívida pública do Pacto de Estabilidade e Crescimento aprovado para sustentar a moeda comum europeia, o euro.

O pacto limita o déficit orçamentário em 3% do produto interno bruto e a dívida pública em 60% do PIB. Embora a proposta preveja um déficit de 2,4%, a UE o considera insuficiente para reduzir a dívida pública italiana, de 131% do PIB, hoje em torno de US$ 2,2 trilhões. A promessa feita em junho era de um déficit de 0,8%.

"Lamentamos que a comissão seja pela primeira vez obrigada a exigir de um país da Zona do Euro de rever seus planos orçamentários, mas não há outra opção", declarou o vice-presidente da comissão, Valdis Dombrovskis.

Ele acrescentou: "Violar as regras comuns pode ser tentador à primeira vista, mais num momento ou noutro o peso da dívida nacional é elevado demais. Em 2017, a dívida italiana chegou a 131,2% do PIB. É a segunda maior da UE e uma das mais altas do mundo. Em 2017, era de 37 mil euros por habitante."

Para o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da ultradireitista Liga, "isso não muda nada. Esses senhores da especulação se reassegurem, mas não recuamos. Eles não estão atacando um governo, mas um povo. São coisas que tornam os italianos cada vez mais coléricos e depois se pergunta por que a popularidade da UE é tão baixa."

O governo da Liga e do Movimento 5 Estrelas admite um "diálogo construtivo", mas não abre mão do "orçamento do povo": "Não me surpreende: é o primeiro orçamento italiano redigido em Roma e não em Bruxelas", ironizou Luigi di Maio, líder do M5E.

"Não estamos perto de um limite, mas face a um desvio claro, assumido e reivindicado", observou o comissário europeu de economia, o ex-ministro das Finanças da França Pierre Moscovici.

"A comissão não coloca em questão as prioridades do governo italiano, como por exemplo a luta contra a pobreza. Ela não vai interferir em quaisquer que sejam as escolhas políticas internas", acrescentou o comissário. "O que nos preocupa são as consequências deste orçamento sobre o povo e a economia. Este fardo sufoca a economia italiana."

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