domingo, 21 de outubro de 2018

Rússia adverte EUA a não romper acordo nuclear

A Rússia alertou hoje o presidente Donald Trump de que retirar os Estados Unidos do acordo bilateral que proibiu os mísseis nucleares baseada em terra de curto e médio alcances, de 500 a 5 mil quilômetros, sob o risco de iniciar uma nova corrida armamentista capaz de abalar a segurança internacional.

Trump anunciou ontem a intenção de sair do Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 8 de dezembro de 1987 na Casa Branca pelo presidente Ronald Reagan e o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev. Os russos advertem que é "um passo muito perigoso".

Primeiro acordo a eliminar armas nucleares, foi um dos marcos do fim da Guerra Fria. O risco é que outros acordos sejam abandonados, como o que limita o número de armas nucleares estratégicas, a ser renovado até 2021.

A reação da Rússia acontece no momento em que o assessor de Segurança Nacional de Trump, o linha-dura John Bolton, crítico do acordo de desarmamento nuclear, chega a Moscou para dois dias de conversas sobre as relações bilaterais.

"Ao contrário dos nossos colegas americanos, entendemos toda a seriedade da questão e seu significado para a segurança e a estabilidade estratégica", afirmou o vice-primeiro-ministro Serguei Riabkov.

O vice-primeiro-ministro acrescentou: "Se os americanos continuarem a agir com esta crueza e se retirarem unilateralmente de todos os tipos de acordos e mecanismos, do acordo nuclear com o Irã ao Tratado Postal Internacional, estão só nos resta realizar ações em resposta, inclusive de natureza militar. Mas não queremos ir tão longe."

Entre as missões de Bolton, está pressionar a Rússia a não ajudar o Irã a se evadir das sanções impostas pelos EUA ao sair do acordo nuclear assinado em 2015 pela República Islâmica, as cinco grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha para congelar por dez anos o programa nuclear militar iraniano.

A partir de 5 de novembro, o governo Trump quer sufocar as exportações do petróleo do Irã.

Para justificar a retirada dos EUA do acordo Reagan-Gorbachev, Trump acusou o Kremlin de desrespeitá-lo: "Não vamos deixar que violem o acordo nuclear e fabriquem armas enquanto nós não podemos."

Na última década, os EUA acusaram a Rússia de violar o acordo com a fabricação de novos mísseis. Os russos insistem que o escudo de defesa antimísseis instalado em países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), especialmente numa base na Romênia e em outra em construção na Polônia, rompem o acordo.

Com o risco para a Europa, o ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Mass, admitiu que, embor a Europa "frequentemente exigiu que a Rússia respondesse às acusações de violar Tratado sobre Forças Nucleares Intermediárias", a decisão dos EUA é "lamentável": "O tratado é um pilar importante da arquitetura de segurança da Europa há 30 anos."

O senador russo Alexei Puchkov adveriu para o risco de "volta do mundo à Guerra Fria": "Esta retirada pode ser o segundo golpe mais forte contra todo o sistema de estabilidade estratégica. O primeiro foi a retirada dos EUA do Acordo de Mísseis Antibalísticos (ABM)" em 2001, no início do governo George W. Bush. "Mais uma vez, a iniciativa de sair do tratado parte dos EUA."

Maior responsável pelo fim da Guerra Fria, Gorbachev questionou a inteligência do atual presidente dos EUA: "É realmente tão difícil de entender que rejeitar esses acordos não é, como as pessoas dizem, o trabalho de uma grande mente? Será que não entendem em Washington aonde isto pode nos levar?"

Gorbachev foi definitivo: "Sob nenhuma circunstância, devemos rasgar acordos de desarmamento. Todos os acordos de desarmamento nuclear e limitação de armas nucleares devem ser preservados para preservar a vida na Terra."

Nenhum comentário: