Em seu segundo discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump rejeitou hoje o globalismo, defendeu o "patriotismo" e sua política externa de "EUA, primeiro".
Com uma visão negocista das relações internacionais, Trump aproveitou esse parlamento mundial para deixar claro que os EUA não vão aceitar nenhuma limitação a seu poder, "vão sempre escolher a independência e a cooperação à governança global, ao controle e à dominação."
Em 35 minutos, defendeu sua visão isolacionista, que vai contra a política externa dos EUA no pós-guerra de gestão coletiva das crises internacionais através do multilateralismo: "Honro o direito de cada nação nesta sala de seguir seus próprios costumes, crenças e tradições. Os EUA não vão dizer a vocês como viver, trabalhar ou rezar. Só pedimos que honre nossa soberania."
Os EUA "nunca vão pedir desculpas por proteger seus cidadãos", afirmou Trump, no que pode ser interpretado dos pontos de vista econômico e militar, justificando a guerra comercial e o aumento do orçamento de defesa para mais de US$ 700 bilhões anuais.
"Os EUA não vão tolerar serem passados para trás", vociferou, pensando no déficit comercial, de US$ 566 bilhões no ano passado.
Ao criticar governos anteriores, Trump costuma dizer "os EUA viraram piada no resto do mundo". Desta vez, acertou. Quando disse que seu governo fez mais em dois anos do que a maioria dos governos da história do país, o plenário caiu na risada.
Também aproveitou a oportunidade para atacar os líderes do Irã, da Síria, da Venezuela e da China. O principal alvo foi o Irã. O presidente citou a retirada dos EUA do acordo nuclear firmado em 2015 pelas grandes potências do Conselho de Segurança da ONU e o Irã para desarmar o programa nuclear iraniano como um marco significativo de seu governo.
A partir de novembro, os EUA voltam a impor sanções ao Irã e estão pressionando o resto do mundo a fazer o mesmo. Mas os outros países signatários e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) entendem que o regime teocrático iraniano estava cumprindo o acordo. A União Europeia já estuda meios para fugir das sanções cruzadas dos EUA.
No ano passado, o alvo era o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un, o mais novo amigão de Trump, que chamou de "fogueteiro" num discurso tão forte que suscitou medo de que os EUA bombardeassem a Coreia do Norte. Hoje, agradeceu a Kim pela "coragem e os passos que deu".
Depois, Trump comentou que a mesma tática pode funcionar com o Irã. No discurso, responsabilizou a "ditadura corrupta do Irã" pela guerra civil da Síria: "Eles semeiam o caos, a morte e a destruição. Os EUA lançaram uma campanha de pressão econômica para negar ao regime os fundos para avançar com sua agenda sanguinária."
O governo Trump exige que o Irã, além de abandonar o desenvolvimento de armas atômicas, pare de fabricar mísseis de médio e longo alcances e de interferir em outros países da região.
Quando o presidente iraniano, Hassan Rouhani, falou, criticou o "nacionalismo extremado e o racismo". Sem nenhum incentivo para negociar no momento, o Irã aguarda o desenrolar as negociações entre os EUA e a Coreia do Norte para reavaliar a conveniência de retomar o diálogo com Washington.
Ignorante e incompetente em política externa, Trump joga para destruir a ordem internacional liberal criada depois da Segunda Guerra Mundial sob a inspiração do presidente Franklin Delano Roosevelt para resolver as crises internacionais em conjunto com os aliados num sistema multilateral.
Trump acredita que o multilateralismo limita o poder dos EUA, em vez de ampliá-lo. Prefere negociações bilaterais diretas em que pretende impor a supremacia americana. Sua visão de mundo despreza aliados tradicionais como a Europa, o Canadá e o Japão.
O mundo de Trump seria uma recriação da era dos impérios, anterior à Primeira Guerra Mundial, um mundo dividido em esferas de influência de grandes potências, EUA, China e Rússia, que levou a duas guerras mundiais. Como ele só acredita em poderio militar, a União Europeia, uma superpotência econômica, não pesa.
Na sua paixão indiscreta por homens-fortes e ditaduras, o presidente americano elogiou a Arábia Saudita, ignorando a tragédia causada pela intervenção militar saudita na guerra civil do Iêmen, o conflito mais mortal no mundo hoje.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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