O maior problema dos Estados Unidos é a "amoralidade" do presidente Donald Trump, acusou um alto funcionário em artigo anônimo publicado na página de opinião do jornal The New York Times. Ele se declara parte da "resistência" para evitar que o comportamento errático do presidente e suas decisões impulsivas prejudiquem o país e a democracia.
Assessores da Casa Branca cogitaram iniciar um procedimento para destituir o presidente com base na 25ª Emenda à Constituição dos EUA, caso ele seja considerado "incapaz de exercer os poderes e deveres do cargo". Desistiram para evitar uma "crise constitucional".
"Não é só o procurador especial [Robert Mueller] que paira sobre o governo. Ou que o país esteja dividido sobre a liderança de Trump. Ou mesmo que seu partido perda a maioria na Câmara para uma oposição infernal querendo sua queda", argumenta o articulista.
"O dilema - que ele não percebe totalmente - é que muitos altos funcionários de sua administração estão trabalhando diligentemente por dentro para frustar partes de seu programa e suas piores inclinações", prossegue.
Está longe de ser a "resistência popular" defendida pela esquerda: "Queremos o sucesso do governo e pensamos que muitas de suas políticas tornaram os EUA mais seguro e mais próspero. Mas acreditamos que nosso primeiro dever é com o país e o presidente continua a agir de uma maneira em detrimento da saúde de nossa República."
"Por esta razão", acrescenta, "estamos engajados em fazer o que pudermos para preservar nossas instituições democráticas enquanto frustramos os impulsos mais desorientados de Trump até que ele deixe o cargo."
Trump reagiu furiosamente. Falou em "traição" e acusou o "falido New York Times" de forjar a história. O jornal sabe quem escreveu. Alegou que "publicar o artigo foi o único meio de permitir aos leitores ter conhecimento de um ponto de vista importante."
Outro jornal extremamente crítico do governo Trump, The Washington Post, considerou o artigo "um verdadeiro coquetel molotov" de uma Garganta Profunda, apelido da grande fonte de Bob Woodward e Carl Bernstein, os repórteres do Escândalo de Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon em meio a um processo de impeachment, em 1974.
A fonte secreta era o subdiretor do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal americana, Mark Felt. Sua identidade só seria revelada depois da morte, mas ele preferiu assumir a façanha e escrever um livro.
Agora, o presidente também está sendo obrigado a desmentir o livro Medo: Trump na Casa Branca, de Woodward, sobre seu governo.
Woodward descreve uma Casa Branca caótica, corroborando a mensagem do articulista, um governo em que altos funcionários ignoram ordens do presidente. Depois de um ataque com armas químicas contra os rebeldes na guerra civil da Síria, Trump teria mandado matar o ditador sírio, Bachar Assad.
Os EUA acabaram fazendo um bombardeio contra a base de onde partiu o ataque com armas químicas. Ontem, Trump afirmou jamais ter cogitado o assassinato de Assad.
Na rede de televisão CNN, o editor Chris Cilliza especulou sobre quem poderia ser o autor anônimo. Citou o advogado-geral da Casa Branca, que colaborou com o procurador especial que investiga um suposto conluio da campanha de Trump com a Rússia. Don McGahn está de saída, demitido pelo Twitter, depois de impedir Trump de demitir Mueller.
Também poderia ser, disse Cilliza, o chefe da Casa Civil, o general John Kelly, um dos adultos da Casa Branca, que ainda não teria saído por lealdade ao país. Ou o secretário (ministro) da Justiça e procurador-geral, Jeff Sessions, com quem Trump está furioso porque ele não impede a investigação sobre suas relações com o Kremlin.
"Ninguém foi mais denigrido em público por Trump" do que Sessions. Semanas atrás, o procurador-geral respondeu que, enquanto estivesse no Departamento da Justiça, não o deixaria ser manipulado por motivos políticos.
Acuado, Trump tenta descobrir quem escreveu para o Times e quais as fontes de Woodward.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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