Em uma manobra surpreendente, o ditador da Rússia, Vladimir Putin, propôs ao Japão a assinatura de um acordo de paz, que os dois países não fizeram até hoje desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45). O governo japonês rejeitou a ideia.
Durante um painel do Fórum Econômico Oriental, realizado neste ano de 11 a 13 de setembro em Vladivostok, no Leste da Rússia, Putin declarou diante do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que um acordo de paz deveria ser fechado até o fim do ano sem precondições. Serviria de base para "resolver todas as questões controversas".
Abe não respondeu diretamente. A proposta foi recusada pelo chefe da Casa Civil, Yoshihide Suga. Ele disse que o Japão não mudou de posição.
A União Soviética de Josef Stalin declarou guerra ao Japão em 9 de agosto de 1945, no dia em que os Estados Unidos jogaram a segunda bomba atômica, na cidade de Nagasaki. Invadiu o Norte da Coreia, ocupada pelo Japão desde 1910, e as quatro ilhas Kurilas do Sul, que os japoneses chamam de Territórios do Norte.
O Japão se recusa a negociar a paz antes da devolução dos territórios. A proposta de paz parece um gesto de boa vontade de Putin. Na verdade, rejeita a exigência japonesa de devolução das ilhas ocupadas em 1945.
Resolver a questão é uma das prioridades de Abe. O primeiro-ministro japonês tenta usar o poderio econômico do país para seduzir a Rússia, que precisa desenvolver sua região oriental.
Apesar de avanços nos 12 encontros de cúpula entre Putin e Abe desde 2012, a Rússia dá sinais de que não pretende abrir mão de suas conquistas territoriais. Na ditadura de Putin, especialmente depois da intervenção militar na Ucrânia e da anexação da Península da Crimeia, a soberania territorial é inegociável.
Ao mesmo tempo, as sanções do Ocidente obrigam Moscou a se voltar para a Ásia. Putin quer investimentos japoneses no setor de energia no Norte da Sibéria, no Oeste da Rússia e no Mar Báltico.
Desde 2012, o Japão investiu US$ 2,2 bilhões na Rússia. Com a exceção de 2012, o total nunca passou de 2% do investimento externo direto japonês. No mesmo período, a China aplicou US$ 32 bilhões na Rússia.
Nesta reunião do Fórum Econômico Oriental, um consórcio de empresas chinesas e russas anunciou ter realizado sete projetos desde 2012, no valor de US$ 4,6 bilhões, e anunciou a intenção de fazer mais 70 projetos conjuntos, num total de US$ 100 bilhões.
Mesmo que muitos destes projetos não saiam do papel, a China está muito à frente do Japão nos negócios com a Rússia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
Putin propõe acordo de paz e Japão rejeita
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