O presidente Donald Trump não matou o Acordo de Paris sobre a Mudança do Clima ao retirar os Estados Unidos. "O acordo não morreu, mas vai mal", declarou o professor Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos da Escola de Paris de Relações Internacionais (Science Po). Ele abriu o painel sobre a gestão das crises causadas pelo aquecimento global na 15ª Conferência do Forte de Copacabana, realizada em 21 de setembro de 2018 no Rio de Janeiro.
A mudança do clima causada pelo agravamento do efeito estufa com o aumento da concentração de gases carbônicos na atmosfera cria novas ameaças como insegurança alimentar e desertificação, observou Nicolas Regaud, representante especial para a região do Indo-Pacífico da diretoria de relações internacionais do Ministério da Defesa da França.
Esta nova realidade levou a uma mudança na política externa francesa. O país criou um observatório que recebe informações de mais de 200 centros climáticos. Trabalha na prevenção e proteção com a cooperação de várias agências "para antecipar os impactos sobre nações mais pobres" e "alocar recursos" para combater e mitigar os efeitos do aquecimento do planeta.
"O fenônomeno El Niño tem consequências cada vez mais graves notou o advogado Pedro Solano, diretor executivo da Sociedade Peruana de Direito Ambiental, como se viu nos incêndios na Califórnia e nos furacões em Porto Rico, nas Filipinas e na Carolina do Sul.
"Em 2015, por causa de El Niño, 20 milhões de pessoas em 113 países foram forçadas a emigrar", afirmou o geógrafo alemão Thomas Loster, diretor-geral da Fundação Munich Re, ligada a uma seguradora.
Já existe uma pressão migratória na África, acrescentou. Além de refugiados de guerra e migrantes econômicos, há os "migrantes climáticos", disse Loster na conferência organizada pela Fundação Konrad Adenauer, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e a Delegação da União Europeia no Brasil.
"Se as projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, do inglês) estiverem certas, teremos de 800 eventos climáticos relevantes por ano", advertiu o pesquisador alemão. "A camada de gelo do Ártico está encolhendo. As geleiras perdem 220 bilhões de toneladas por ano. Neste ritmo, caminhamos para uma elevação de 7 metros no nível dos mares, capaz de inundar Nova York, Londres, Paris e o Rio de Janeiro."
O Acordo de Paris, de 2015, foi o primeiro acordo global em que todos os países, com as exceções da Nicarágua, da Síria, e depois dos EUA de Trump, se comprometeram a reduzir suas emissões de gases carbônicos, que causam o aumento da temperatura. Mas as metas são voluntárias e não estão sujeitas a qualquer verificação externa ou punição.
Ao retirar os EUA, na prática, Trump cortou uma ajuda de US$ 3 bilhões, da qual o país já havia desembolsado US$ 1 bilhão. É um erro grave.
O problema climático não será resolvido se centenas de milhões de indianos cozinharem queimado lenha ou qualquer coisa que encontrarem. Se os indianos cozinharem a gás, será um grande benefício para o planeta. Mas Trump reza pela cartilha da direita republicana, que nega a influência humana na mudança do clima.
Como soluções práticas Pedro Solano defendeu "um sistema de transportes mais solidário, inclusivo e eficiente", que vai exigir a "mobilização de governos e cidadãos". A ciência precisa ser o "motor da informação", sem o "aspecto religioso" que algumas alegações anticientíficas são feitas hoje, numa crítica indireta aos que negam a influência do homem no aumento da temperatura da Terra.
"A tecnologia digital é favorável à mudança climática, é uma oportunidade imensa" para uma mudança de comportamento", observou Solano. "Menos papel. Ninguém mais compra discos físicos."
Uma nova economia de baixo carbono permitiria dar novo impulso ao crescimento econômico em bases sustentáveis, concluiu. "É um trabalho de educação que deve mobilizar políticos e empresários, a mídia e líderes comunitários. É um trabalho de mitigação e adaptação. Como os mais pobres sofrem mais, é preciso combater a pobreza."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 24 de setembro de 2018
Acordo do Clima não morreu mas vai mal
Marcadores:
Acordo de Paris,
Alfredo Valladão,
Aquecimento global,
desertificação,
insegurança alimentar,
IPCC,
mudança do clima,
Nicolas Regaud,
Sciences Po
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário