segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Mianmar condena repórteres à prisão por divulgar segredos de Estado

A Justiça de Mianmar, a antiga Birmânia, condenou hoje dois jornalistas da agência de notícias Reuters a sete anos de cadeia por obter e divulgar segredos de Estado sobre o conflito com a minoria étnica rohingya. As Forças Armadas do país são acusadas de genocídio contra os rohingyas, que são muçulmanos.

Wa Lone e Kyae Soe Oo relataram graves violações dos direitos humanos nas operações dos militares mianmarenses no estado de Rakhine, no Oeste de Mianmar. A polícia plantou documentos secretos para incriminar os repórteres, alegou a defesa.

A denúncia foi feita com base na Lei de Segredos de Estado, reminiscência do período colonial britânico, encerrado em 1948. Os promotores afirmaram que os documento secretos foram roubados para ganho financeiro da Reuters em prejuízo dos interesses nacionais de Mianmar, uma linguagem típica da ditadura militar que o país foi até pouco tempo e de que não consegue se livrar.

Suas reportagens revelaram o massacre de dez homens e garotos amarrados uns aos outros na vila de Inn Din, uma das raras ocasiões em que o Exército foi obrigado a reconhecer as atrocidades cometidas pelos soldados.

Os militares de Mianmar foram acusados pelos investigadores da ONU por cerca de 10 mil mortes e pela fuga do país de mais de 700 mil rohingyas, que foram para o vizinho Bangladesh, a República de Bengala, criada com a independência do antigo Paquistão Oriental, em 1971.

A linha dura das Forças Armadas da Birmânia, que desgovernaram o país de 1962 até 2016 e ainda têm plenos poderes para combater várias minorias étnicas rebeldes. A líder civil do país é Aung San Suu Kyi, que passou a maior parte das três últimas décadas em prisão domiciliar e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991.

Suu Kyi tem sido extremamente criticada pelo silêncio diante das atrocidades dos generais. A luta contra as minorias étnicas e religiosas têm o apoio da maioria budista e o silêncio da filha do líder da independência, que se tornou o símbolo da luta pela democracia no país, enquanto os militares falam em "acabar com o problema bengalês", como se os rohingyas fossem imigrantes ilegais.

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