Os manuscritos medievais da cidade histórica de Timbuktu revelam um Islã moderado, tolerante e aberto culturalmente. Por isso mesmo, ficaram em perigo quando extremistas muçulmanos tomaram o Norte do Máli, em abril de 2012, e começaram a destruir mesquitas e monumentos do sufismo, uma corrente muçulmana a que os salafistas se opõem.
Não foi a primeira vez. Sempre que estrangeiros invadiram Timbuktu, como os marroquinos no século 16 e o império francês no século 19, os moradores da cidade esconderam os documentos históricos em cavernas e salas secretas, ou os levaram para outro lugar.
Por mais de 60 anos, a família Haidara escondeu os manuscritos de Timbuktu do colonialismo francês em grandes baús metálicos e poços profundos. Só depois da independência do Mali, em 1960, eles voltaram a ser expostos publicamente.
No ano passado, teve de repetir a operação. Haidara comprou centenas de baús metálicos. Em maio, dezenas de milhares de páginas de documentos tinham sido removidos das bibliotecas de Timbuktu para lugares seguros na própria cidade.
A seguir, ele fugiu para Bamako, a capital do Mali, que não caiu em mãos dos extremistas muçulmanos. De lá, foi a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em busca de financiamento de um centro islâmico.
Haidara também pediu ajuda aos governos da Alemanha e da Holanda, e a representantes da Fundação Ford que encontrou em Lagos, na Nigéria. Ganhou US$ 425 mil do governo holandês e US$ 236 mil da fundação americana.
"É claro que os manuscritos estavam em perigo", reconhece Joseph Gitari, alto funcionário da Fundação Ford em Lagos, em entrevista ao Washington Post, que contou a história. "A narrativa dos manuscritos, seu foco em ciência, cultura e direito contradiz a posição ideológica dos grupos que tomaram o Norte do Mali."
Aí veio o momento Indiana Jones da retirada dos documentos. Numa noite de agosto de 2012, uma caravana de dez burros de Hassine Traoré salvou os manuscritos. A chuva fina ajudou. Os jihadistas preferiram ficar em casa e não em postos de controle nas estradas. Foram seis viagens de ida e volta até Bamako para transportar 45 mil páginas de valor histórico inestimável.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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