terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ex-ditador da Guatemala vai a julgamento

Em uma vitória na luta pela defesa dos direitos humanos na América Latina, um juiz da Guatemala rejeitou 13 recursos que tentavam impedir o julgamento do ex-ditador Efraín Ríos Montt por genocídio e crimes contra a humanidade no período mais duro da pior guerra civil do continente durante a Guerra Fria.

Da queda do presidente Jacobo Árbenz, em 1954, no primeiro golpe de Estado patrocinado pela CIA na região durante a Guerra Fria, até o acordo de paz de 1996, estima-se que mais de 200 mil pessoas foram mortas na Guatemala.

O general Ríos Montt governou o país num dos períodos mais sangrentos, em 1982 e 1983. Por causa da Guerra das Malvinas, a ditadura guatemalteca perdera a ajuda militar dos Estados Unidos, enviada ilegalmente pelo governo Ronald Reagan através da Argentina.

A morte de um jornalista americano executado friamente pelas forças do ditador Anastasio Somoza no fim da revolução sandinista na Nicarágua levara o Congresso dos EUA a proibir a ajuda do governo a ditaduras latino-americanas. Para driblar a lei, o governo Reagan contava com a ajuda das sanguinárias juntas militares da Argentina, que faziam o jogo sujo para Washington na América Central.

Como os EUA apoiaram o Reino Unido na Guerra das Malvinas, a Argentina suspendeu a ajuda em 1982. A ditadura da Guatemala, que tinha uma disputa histórica com o Império Britânico em torno de Belize, a antiga Honduras Britânica, chegou a oferecer ajuda militar a Buenos Aires. Acabou lutando com ferocidade ainda maior contra seu próprio povo.

Neste processo, Ríos Montt é acusado pela morte de mais de 1,7 mil índios de origem maia, herdeiros de uma das três grandes civilizações pré-colombianas da América.

Há um ano, a promotoria denunciou o general, que governou a Guatemala por um ano e cinco meses, de permitir o uso de tortura, violência sexual e incêndios criminosos numa campanha de "terra arrasada" contra rebeldes esquerdistas e aldeias indígenas de regiões sublevadas. Sua defesa conseguiu retardar o julgamento alegando que nunca houve genocídio na Guatemala e que o ditador não tinha controle sobre o que acontecia no "campo de batalha".

Agora, o juiz Miguel Ángel Galvez conclui que "há indícios graves suficientes para submeter as partes envolvidas a um julgamento público". Além do general, é réu o chefe da inteligência militar na época, José Mauricio Rodríguez, reporta a agência de notícias Reuters.

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