sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Cameron enfrenta o risco da "última descolonização"

Em sua tentativa de acalmar os eurocéticos convocando um plebiscito sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, o primeiro-ministro David Cameron corre o risco de deflagrar a "última descolonização", devolvendo à Inglaterra o território que tinha no século 13, antes de anexar o País de Gales.


Em primeiro lugar, cabe observar que a Inglaterra não existe como país independente desde 1707, quando firmou o tratado da união com a Escócia. Por ironia, a principal consequência de uma possível saída do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte da UE pode ser a independência da Escócia.

No momento, a Escócia se beneficia economicamente por pertencer à UE, o que faz com que uma maioria pragmática abandone o sonho de uma Escócia independente. Sem o mercado comum europeu, faria mais sentido pertencer à UE do que ao RU.

O problema de Cameron é o avanço do Partido da Independência, que já começa a ameaçar os candidatos conservadores em alguns distritos, ou seja, Cameron tenta resolver um problema interno de sua bancada jogando o país na incerteza.

Os EUA já advertiram que querem uma UE forte, com um RU firme e atuante em seu seio, ou seja, o país perde prestígio e poder no mundo se optar pelo isolacionismo.

O Japão e outros países da Ásia que usam o Reino como base para investimentos no mercado europeu também devem recuar e fechar fábricas.

Ao convocar um plebiscito para daqui a quatro anos, Cameron aumentou a incerteza que afasta negócios e investimentos. Até o centro financeiro de Londres seria ameaçado, já que o RU não participaria mais da discussão e elaboração das regras do bloco europeu.

Para resolver um problema interno do partido, Cameron pode estar assinando a sentença de morte de seu próprio país. Sem a Escócia, restaria apenas o País da Gales. Seria o que os ingleses chamam de "última descolonização", o último capítulo na transformação de um império que um dia dominou o mundo num país menor e irrelevante.

É evidente que a Europa precisa de reformas para aumentar sua competitividade, mas elas serão discutidas conjuntamente pelos 27 países-membros da UE. Não haverá "Europa à la carte", advertiu o ministro do Exterior da França, Laurent Fabius. A Grã-Bretanha não pode comer apenas as cerejas do bolo, acrescentou seu colega alemão.

Se a negociação for feita na base de "pegar ou largar", é mais provável que o RU não obtenha uma renegociação nos termos que deseja. Uma população eurocética, inflamada pelos tabloides, pela ressaca imperial e por um nacionalismo rastaquera - o último refúgio dos velhacos, como disse Samuel Johnson -, tenderia a votar pela saída da UE.

Um comentário:

Anônimo disse...

David Cameron deu um tiro no pé.