Um grande exemplo de sucesso no mundo globalizado, com apenas 5,3 milhões de habitantes e produto nacional bruto superior a US$ 200 bilhões, a Finlândia passou em poucas décadas de uma sociedade agrária a uma sociedade do conhecimento baseada na educação e na alta tecnologia.
É um país que encontrou um nicho de mercado com a sofisticação tecnológica, com os maiores índices de acesso a computadores, telefones celulares e internet. É amplamente cabeado e sem fio. Precisa da tecnologia para vencer o rigor do inverno ártico.
Desde o século 12, suecos e russos disputavam o território da atual Finlândia. O país foi dominado pelo suecos até guerra contra a Rússia, em1808-9, sendo então conquistado pelo czar Alexandre I, que o anexou mas manteve uma estrutura administrativa à parte.
“A grande mudança foi nos 1860s, quando houve a primeira onda de reformas na Rússia e o czar Alexandre II aboliu a servidão”, afirmou o professor Raimo Väyrynen, diretor fundador do Instituto Finlandês de Relações Internacionais, em palestra comemorativa do 90º aniversário da independência do país, realizada no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em 1º de abril de 2008.
Naquela época, nasce o Banco da Finlândia e o país cria sua própria moeda, a marka, e suas próprias instituições políticas. Era uma sociedade agrária que praticava uma agricultura de subsistência num ambiente hostil, onde invernos rigorosos provocavam grandes fomes.
No fim do século 19, com a ascensão do pan-eslavismo, houve uma tentativa de russificar a Finlândia.
Quando a Rússia foi derrotada pelo Japão, em 1905, na primeira vez que um país branco e europeu perdeu uma guerra para não-europeus na era moderna, houve uma revolta e uma greve geral. Isso levou à criação da Duma do Estado, o primeiro parlamento eleito da Rússia.
A Finlândia elegeu seu primeiro parlamento em 1906, com um detalhe: as mulheres puderam votar e ser eleitas. “Foi o primeiro país a adotar o sufrágio universal”, assinalou Raimo Väyrynen.
Em 1917, no fim da Primeira Guerra Mundial, os impérios russo, austro-húngaro e otomano entraram em colapso.
Assim, em 1918, a Finlândia, a Hungria, a Polônia, a Tcheco-Eslováquia e os países bálticos se tornam independentes.
No caso da Finlândia, a máquina estatal czarista entrara em colapso. Não havia um aparelho de Estado. Houve revoltas populares por falta de comida.
Com a Revolução Russa, os socialistas finlandeses tentam tomar o poder, deflagrando uma guerra civil entre brancos e vermelhos de janeiro a maio de 1918. Cerca de 38 mil pessoas morreram numa população de 3 milhões de pessoas.
“Os brancos ganharam por causa da intervenção de uma força expedicionária alemã”, conta o professor finlandês.
Em 1939, a União Soviética invade a Finlândia e, em 1940, toma um décimo de seu território. O país se alinha à Alemanha nazista. É derrotado e sai arrasado do conflito.
“Os soviéticos entraram em Helsinque, mas queriam mesmo chegar a Berlim”, comenta Väyrynen.
No pós-guerra, a Finlândia se tornou neutra e tratou de ter boas relações com a URSS, que passou a ser seu grande parceiro comercial. “O que Stalin não queria era que a Finlândia fosse usada para atacar a URSS”, observa o professor.
Com o colapso da URSS, em 1991, o produto interno bruto finlandês caiu em um terço, e as vendas para a ex-URSS passaram de 25% a 3% do total das exportações finlandesas.
A política de desenvolvimento científico e tecnológico para tornar a Finlândia numa economia baseada no conhecimento foi lançada nos anos 80. Mas a liberalização apressada do mercado de capitais criou uma bolha financeira.
Sem o comércio com a URSS e com os Estados Unidos em recessão, as exportações diminuíram e o país se desindustrializou.
Como o mercado interno é pequeno, a saída é exportar. As exportações cresceram de 18% para 40% do PIB. Para ser competitiva, a Finlândia investe 3,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento de produtos.
O exemplo mais notório é a Nokia, maior fabricante de telefones celulares do mundo, com 40% do mercado. Väyrynen explica que “a crise dos anos 1990s destruiu os setores não-competitivos da economia”.
As razões do sucesso desse país, apontado como o menos corrupto do mundo pela organização não-governamental Transparência Internacional, estão no investimento permanente em educação, ciência e tecnologia.
Na base, está uma educação em que todos os professores do ensino fundamental tem mestrado. A educação é obrigatória desde 1931. Os estudantes finlandeses estão entre os melhores do mundo nas olimpíadas de matemática e ciências naturais, ao lado de sul-coreanos e taiwaneses.
Outra razão apontada pelo professor Väyrynen é “a abertura econômica do país às forças da globalização, que cria um ambiente de competição permanente”.
O ingresso na União Européia, em 1995, foi um fator importante para dar consistência e garantias à transformação econômica da Finlândia numa sociedade do conhecimento.
“Hoje, se houver estabilidade financeira, estamos protegidos pelo euro e o Banco Central da Europa”, analista o professor.
Por fim, há uma boa distribuição da riqueza, que cria uma sociedade estável.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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