Forças leais ao governo Daniel Ortega atacaram manifestantes na capital e em duas províncias da Nicarágua no fim de semana, matando pelo menos 11 pessoas, o que eleva para 25 o total de mortos desde terça-feira passada. Treze países da América Latina, inclusive o Brasil, pediram a desmobilização dos grupos paramilitares que apoiam o regime.
Em Manágua, paramilitares atacaram no sábado estudantes entrincheirados na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN) e os perseguiram até dentro da Igreja da Divina Misericórdia. Três estudantes foram mortos.
No domingo, a polícia investiu contra estudantes que armaram barricadas da Resistência Cívica de Masaya, a Cidade das Flores, berço da Revolução Sandinista, e também nas cidades de Diriá, Niquinohomo e Catarina, denunciaram o bispo auxiliar da Arquidiocese de Manágua, Silvio José Báez, e grupos de defesa dos direitos humanos.
Embora o Exército da Nicarágua afirme que seu armamento está sob controle, no fim de semana, tanto a polícia quanto os paramilitares usaram armas de guerra como fuzis de assalto, lançadores de granadas e lançadores de foguetes de uso exclusivo das Forças Armadas, noticiou o jornal La Prensa.
“É uma carnificina”, desabafou Álvaro Leiva, porta-voz da Associação de Direitos Humanos da Nicarágua. “Para todos os que estão nestas cidades, en vos imploro que fujam, se protejam e salvem suas vidas”, pediu o bispo auxiliar de Manágua, fazendo um apelo: “Vamos evitar mais mortes.”
Ortega era um dos nove comandantes da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que derrubou a ditadura de Anastasio Somoza Debayle em 19 de julho de 1979. Foi chefe do governo revolucionário e, em 1984, eleito presidente. Em 1990, perdeu a reeleição para Violeta Chamorro.
Ele voltou ao poder em 2007 em aliança com o ex-presidente corrupto Arnoldo Alemán, que chegou a ser preso, um indigno representante da oligarquia somozista contra a qual lutara como guerrilheiro na juventude. Hoje, Ortega é comparado a Somoza.
Para se eternizar no poder, Ortega mudou a composição da Corte Suprema e alterou a Constituição para permitir a reeleição sem limites. Com a ajuda dos petrodólares do regime chavista da Venezuela, conseguia realizar programas sociais. A crise econômica venezuelana secou a fonte.
A revolta começou em 19 de abril, com protestos de rua contra uma reforma da Previdência Social que aumentava as contribuições e diminuía as aposentadorias e pensões. Diante da brutalidade da repressão, agora o Movimento 19 de Abril exige a saída imediata de Daniel Ortega e da vice-presidente Rosaria Murillo, sua mulher, a antecipação das eleições de 2021 e uma investigação internacional para apurar as responsabilidades por cerca de 370 mortes.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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