Em meio à tempestade diplomática por sua postura submissa e conciliatória no encontro de cúpula entre os Estados Unidos e a Rússia no dia 16, o presidente Donald Trump mandou o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, convidar o ditador Vladimir Putin a visitar Washington no próximo outono no Hemisfério Norte.
É mais uma iniciativa pessoal de Trump. Até o diretor nacional de Inteligência dos EUA, Dan Coates, foi pego de surpresa quando era entrevistado ao vivo numa conferência sobre segurança em Aspen, no Colorado.
Coates tentava explicar que precisou corrigir algumas declarações do presidente depois do encontro de Helsinque: “Putin é um ex-diretor do KGB” (a polícia política soviética), observou, deixando claro que os EUA não podem confiar nele. Quando soube da notícia, deu uma gargalhada.
Enquanto a Rússia cobra a implementação dos “acordos verbais” que teriam sido acertados entre os dois líderes, Coates admite que o presidente não comunicou aos serviços de inteligência o que discutiu em duas horas de conversa privada com Putin.
Ao justificar o convite, Trump falou no “sucesso do encontro” e na necessidade de levar adiante uma extensa agenda de problemas internacionais, Síria, Ucrânia, proteção a Israel, controle de armas, proliferação nuclear e Coreia do Norte.
A maior crítica a Trump é que em 18 anos no poder Putin nunca foi tratado como igual pelo presidente dos EUA. Ele deu a Putin um palanque de superpotência que a Rússia não é mais, a não ser pelas armas nucleares. Recompensou um tirano e um ditador sem falar na intervenção militar na Ucrânia, na anexação ilegal da Crimeia, no envenamento de um ex-espião russo asilado no Reino Unido e na guerra cibernética para manipular as eleições de 2016 nos EUA.
Trump criou o gesto diplomático vazio, encontros sem preparação nem agenda nem comunicado final, na base da relação pessoal. O encontro com o ditador norte-coreano, Kim Jong Un, dia 12 de junho passado, em Cingapura, contribuiu para desarmar os espíritos na Península Coreana, mas pouco se fala das negociações e especialmente da total desnuclearização, o objetivo dos EUA.
A cúpula com Putin foi um desastre total, uma submissão, uma rendição e uma traição. Trump aceitou a negativa russa de manipulação das eleições americanas, elogiou o tirano como um “competidor” e até mesma a proposta de submeter a interrogatório os agentes russos denunciados na semana passada pela Justiça dos EUA. Só não disse que em contrapartida a Rússia queria interrogar até um ex-embaixador americano, violando o princípio da imunidade diplomática.
Mas os dois países têm uma ampla agenda, a começar pelo controle de armas e a renovação dos acordos nucleares, além do combate à proliferação. Há uma expectativa de que trabalhem juntos pela paz na guerra civil da Síria. Putin prometeu que o gasoduto Nordstream 2, para levar gás natural russo para a Europa, vai passar pela Ucrânia, não isolando e estrangulando a ex-república soviética para submetê-la ao domínio de Moscou.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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